Interrogado, Cachoeira, enfim, fala…De amor!?!
Josias de Souza
25/07/2012 17h51
Carlinhos Cachoeira foi interrogado na tarde desta quarta (25) pelo juiz Alberico Rocha Santos, em Goiânia. O pós-bicheiro, finalmente, quebrou o silêncio. A inquirição já se encaminhava para o final. Súbito, o réu da Monte Carlo instilou suspense no auditório, apinhado de familiares, advogados, jornalistas e curiosos.
"O sofrimento é muito grande e esta é a oportunidade de falar alguma coisa", disse Cachoeira, para generalizada supresa. Voltando-se para a companheira Andressa Mendonça, que acompanhava a audiência, arrematou: "Ela me deu nova vida. Eu te amo, tá?". E Andressa, em voz alta: "Eu também te amo."
Consumada a cena meiga, o interrogatório foi dado por encerrado. Afora a declaração de amor, Cachoeira serviu ao juiz um chiste. O magistrado perguntou-lhe se era casado ou solteiro. "Essa é uma pergunta difícil", respondeu o contraventor, voltando-se para Andressa. Deu a entender que está pronto para escalar o altar: "É só o Ministério Público me liberar. No primeiro dia, tá?"
No mais, ouviu-se o estrépito do silêncio. O magistrado ainda tentou engatar um lote de perguntas. Conhece as testemunhas? E quanto aos outros réus? Explora jogos ilegais? O que sabe do oferecimento de vantagens a agentes públicos? Mas Cachoeira não moveu os lábios senão para dizer: "Gostaria de fazer um bom debate com o Ministério Público, com todo mundo, mas devido à fase processual que houve hoje, melhor não falar nada." No mais, atacou os investigadores, que o transformaram um "leproso jurídico".
Antes do interrogatório, o juiz Alberico indeferira um punhado de petições que tentaram protelar a audiência convocada para dar voz às testemunhas, sobretudo, aos réus. Exceto pela turma da acusação, ninguém pareceu lá muito interessado em abrir o bico.
Chefiada pelo doutor Márcio Thomaz Bastos, a defesa de Cachoeira dizia que seu cliente estava deprimido. Avaliação psiquiátrica feita na véspera constatara que o réu encontra-se apto para depor. Os médicos tinham razão. O Cachoeira que se apresentou ao juiz revelou-se um personagem lúcido, humorado e, veja você, amoroso.
Ao chegar, Andressa passara por rigorosa revista da PF. Foi recompensada com as palavras do amado. Cachoeira provou que, assim como na delinquência, amar não é coisa para amadores.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.