Vaccarezza lembra Kassab-2008 para sustentar que pesquisas não tiram Haddad-2012 do páreo
Josias de Souza
04/08/2012 04h50
Em conversa que manteve com Haddad entre a veiculação do Datafolha e a divulgação do Ibope, o deputado Cândido Vaccarezza aconselhou o candidato a olhar para as pesquisas com "calma" e "sangue frio". Lembrou que na eleição de 2008, Gilberto Kassab também chegou ao mês de agosto desacreditado pelos analistas e terminou vencendo a disputa.
Vaccarezza escora seu otimismo no noticiário da época. Recuperou notícia de 25 de julho de 2008. Trazia os resultados de uma rodada de sondagens do Datafolha em várias capitais. Em São Paulo, estavam empatados tecnicamente na liderança Marta Suplicy (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB).
A 25 dias do início da propaganda no rádio e na tevê, Marta somava 36% das intenções de voto, contra 32% atribuídos a Alckmin. Nessa pesquisa, o prefeito Kassab, candidato à reeleição, amealhava 11%. Dali a dois meses, foi ao segundo turno contra Marta e prevaleceu sobre ela no segundo round, reelegendo-se.
Hoje, lideram as pesquisas, também estatisticamente empatados, José Serra e Celso Russomanno –30% a 26% no Datafolha e 26% a 25% no Ibope. "Isso não quer dizer absolutamente nada", diz Vaccarezza. "Os intérpretes de pesquisas deveriam olhar para 2008 e rever os erros que cometeram."
Na mesma notícia de 25 de julho de 2008, realça Vaccarezza, candidatos tidos como azarões em outras capitais recolheram vitórias das urnas. No Rio, por exemplo, Eduardo Paes arrancou para o triunfo partindo de 13% no final de julho, contra 24% do então líder Marcelo Crivella. Estava atrás até mesmo da comunista do 'B' Jandira Feghali, com 16%.
Em Belo Horizonte, ocupava o topo do Datafolha outra comunista do 'B', Jô Morais (20%), seguida pelo pemedebê Leonardo Quintão (6%). Abertas as urnas em outubro, sagrou-se vitorioso o lanterninha de julho, Márcio Lacerda (6%), hoje candidato à reeleição pelo PSB.
Na visão do PT, Haddad cavalga um conjunto de dados que favorecem a decolagem tardia: é pouco conhecido, tem taxa de rejeição bem inferior às de Serra e Russomanno, ainda não roçou o patamar histórico de votos do PT (cerca de 30%) e dispõe do apoio de Lula e Dilma Rousseff.
Avalia-se que, aberta a temporada de propaganda eletrônica, Haddad tende a alçar vôo. Os respingos do mensalão e o apoio tóxico de Paulo Maluf não devem conspurcar-lhe o desempenho, crê o petismo. A ver.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.