De volta ao palanque, Lula ataca rivais mineiros
Josias de Souza
01/09/2012 02h17
O cabo eleitoral do PT foi à capital mineira para trombetear a candidatura de Patrus Ananias à prefeitura da cidade. A pretexto de enaltecer o ex-ministro do Bolsa Família, Lula vergastou o PSDB do presidenciável Aécio Neves e o PSB do neopresidenciável Eduardo Campos.
Alfinetou Aécio criticando o governador tucano de Minas Antonio Anastasia. Espetou Eduardo batendo no prefeito peessebê de Belo Horizonte Marcio Lacerda. Mirou em ambos abaixo da linha da cintura.
Sobre Anastasia declarou: "Parece que o governo estadual não está tão bem como se dizia. O governador não pode falar isso. Se pudesse, ia dizer que o Estado está quebrado." E sobre Lacerda: é "um tocador de obras que às vezes não sabe nem sorrir. Que às vezes parece que não tem coração. Parece uma pedra de gelo."
O governador "quebrado" elegeu-se em 2010 dobrando Hélio Costa (PMDB), um antagonista que teve Lula em seu palanque. O prefeito "pedra de gelo" chegou ao poder em 2008 com as bênçãos de Lula, numa coligação que juntou o PSDB de Aécio e o PT de Fernando Pimentel. O petismo o apoiava até ontem. Desembarcou da administração municipal sem entregar todos os cargos.
Ao meter-se na disputa mineira, Lula flerta com o infortúnio. Embala Patrus na contramaré da vontade do eleitorado. Tomado pelo Datafolha, o eleitor de Belo Horizonte revela, por ora, a disposição de reeleger Lacerda. O prefeito amealha 46% das intenções de voto, contra 30% atribuídos a Patrus.
Como que decidido a desmerecer o ex-aliado que o PT converteu em antagonista na última hora, Lula acusou Lacerda de levar ao ar em sua campanha propaganda enganosa. O ex-soberano insinuou que o sucesso da atual gestão municipal de Belo Horizonte é dele, não do prefeito.
"Esses [prefeitos] pegaram quatro anos do meu mandato. Boa parte [das obras] é parceria com o governo federal ou empréstimos do BNDES. O povo mineiro não vai se deixar enganar pela propaganda falsa na telinha", disse. "É importante que eles saibam que não estariam no governo se não fossemos nós."
A certa altura, alvejou o antecessor Fernando Henrique Cardoso. Declarou que, à época em que foi prefeito, de 1993 a 1996, Patrus recebeu do ex-presidente tucano um tratamento pouco republican. "As verbas não eram liberadas", acusou.
"Quando foi prefeito, ele não tinha nenhum presidente colocando dinheiro na cidade. Não tinha o Lulinha lá. Não tinha a Dilminha lá. Tinha o FHC, que não dava dinheiro pra ninguém." Como se vê, a voz de Lula já não é a mesma. Mas o veneno da língua permanece inalterado. Em 2010, enterrou Hélio Costa. Agora, aposta o PT, vitaminará Patrus. A ver.
No mapa da guerra esboçado por Lula para 2012, seu rosto já foi exposto na propaganda de petistas e aliados em várias cidades. A lista inclui favoritos e azarões (repare no quadro abaixo). As urnas de outubro dirão qual foi o resultado. Por ora, a versatilidade de Lula rendeu-lhe uma provocação na web (veja o vídeo no rodapé).
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.