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'Eu não vou fugir do Brasil', declara José Dirceu

Josias de Souza

17/09/2012 05h25

À espera do veredicto do STF, José Dirceu diz que não lhe passa pela cabeça a ideia de fugir do país para evitar a prisão em caso de condenação. "Essa história que inventam de que vou sair do Brasil não combina comigo."

Dirceu falou à repórter Mônica Bergamo. Recebeu-a para um café da manhã no seu apartamento, em São Paulo. Declarou que só rumou para o estrangeiro na década de 60 porque foi "expulso do país".

"Cassaram a minha nacionalidade. Eu era um apátrida, não podia viajar. Quem me impedia de voltar era a ditadura militar. E mesmo assim eu voltei para o Brasil, duas vezes, colocando a minha própria vida em risco. Eu iria embora agora?"

A pedido do advogado, Dirceu guardava obsequioso silêncio desde que o mensalão começou a ser julgado no STF, há um mês e meio. Desgrudou os lábios para negar o plano de fuga: "O PT tem defeitos. Mas se tem algo que não conhecemos no PT é a palavra covardia. A chance de eu fugir do Brasil é nenhuma. Zero."

Bem posto na vida, o ex-líder estudantil, hoje um próspero consultor de empresas, recepcionou a repórter com uma frase que destoa de sua condição: "A burguesia acorda tarde. Eu saí da cama faz tempo e estou morrendo de fome."

Já acomodado à mesa do café, disse que não se deixa abater pelo julgamento. "Eu não estou deprimido. Eu não tenho razão para estar deprimido. Eu tenho objetivos, metas, sonhos."

A azáfama do STF tampouco conspurcou-lhe a rotina: "Acordo às seis da manhã todos os dias. Recebo o resumo das notícias. […] "Gasto duas ou três horas lendo toda a imprensa brasileira, no iPad e no meu laptop. Depois, escrevo artigos para o blog."

Dirceu está mais magro. Pelas suas contas, perdeu seis quilos. Nada a ver com o mensalão, apressa-se em dizer. "Eu faço muita ginástica. Desde 1998, tenho um instrutor." Exercita-se na academia do seu prédio. Faz esteira, musculação e alongamento. "Me sinto bem", ele diz.

Mesmo entre os amigos de Dirceu há quem considere palpável o risco de ele ser condenado. O réu, porém, ainda se refere à encrenca que o engolfa com uma ponta de otimismo. Nega que tenha admitido a condenação numa conversa com Lula. "Isso não aconteceu. Não é que não tem prova no processo contra mim. Eu fiz a contraprova. Eu sou inocente. Eu confio na Justiça."

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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