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Conselho do Ministério Público protela decisão sobre pedido de ‘afastamento’ de Demóstenes

Josias de Souza

20/09/2012 05h54

O processo que corre contra o senador cassado Demóstenes Torres no CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) sofreu um revés que conspira a favor do retardamento. Na última sexta-feira (14), 19 dias depois de ter assumido por sorteio a relatoria do caso, o conselheiro Fabiano Augusto Silveira declarou-se impedido de exercer a função.

Com seu gesto, Silveira produziu dois efeitos. Num, forçou a redistribuição do processo, agora confiado à relatoria da conselheira Maria Ester Tavares. Noutro, devolveu a encrenca à estaca zero. Curiosamente, o ex-relator expedira quatro notificações antes de concluir que, por "motivo de foro íntimo", não estava apto a conduzir o processo.

Vinicius Sassine e Paulo Celso Pereira informam: Demóstenes contribuiu decisivamente para que o doutor Silveira virasse conselheiro do CNMP. Ele ocupa no conselho uma cadeira reservada a representante do Senado. Escalou o assento no final de 2001.

Nessa época, o mundo ainda não sabia que Demóstenes era membro do seleto 'Clube do Nextel' de Carlinhos Cachoeira. E o então senador empenhou o prestígio que detinha na ocasião para defender o nome de Silveira. Pegou em lanças pela nomeação na Comissão de Justiça e no plenário do Senado.

Quer dizer: Silveira não precisaria ter esperado 19 dias para se dar conta de que lhe faltava algo essencial para opininar no processo que trata do ex-patrono: a isenção. Por mal dos pecados, o CNMP informa que "os conselheiros não têm um prazo para se declarar impedidos e não precisam se justificar."

Deve-se a abertura do procedimento contra Demóstenes a uma representação subscrita por oito dezenas de promotores e procuradores de Goiás. A peça foi protocolada em 27 de agosto. Pede-se no texto que o senador cassado seja privado de exercer as funções de procurador de Justiça em Goiás, cargo do qual estava licenciado e que voltou a ocupar depois que seu mandato foi à breca.

Corre na Corregedoria-Geral do Ministério Público de Goiás uma sindicância contra Demóstenes. Mas os signatários da petição dirigida ao CNMP receiam que a correição goiana dará em nada. Por isso decidiram tentar barrar o ex-amigo de Cachoeira no colegiado de Brasília.

Afora o ex-relator Silveira, frequenta o CNMP um outro conselheiro próximo a Demóstenes. Chama-se Tito Amaral. Promotor de carreira, é amigo e ex-companheiro de trabalho do ex-senador. Ocupa no conselho um dos assentos reservados a representantes do Ministério Público dos Estados.

Demóstenes foi relator da indicação de Tito na Comissão de Justiça do Senado. Por ora, não há notícia de que o amigo tenha se dado por impedido de apreciar a representação da qual o conselheiro Silveira desembarcou com atraso.

Atualização feita às 15h09 desta quinta-feira (20): em contato telefônico com o repórter, a assessoria do CNMP esclarece que o conselheiro Tito Amaral já se declarou impedido de atuar no processo contra Demóstenes. Informa ainda que a conselheira Maria Ester Tavares aproveitará os atos praticados pelo ex-relator Fabiano Augusto Silveira. Assim, os procedimentos não teriam sido retomados do zero.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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