Na beira da urna, Barbosa condenará petistas Dirceu, Genoino e Delúbio por corrupção ativa
Josias de Souza
01/10/2012 07h04
Na sessão desta segunda-feira, a trigésima dedicada ao mensalão, o STF deve concluir o julgamento dos parlamentares que se corromperam em troca de propinas. Na quarta (3), o relator Joaquim Barbosa inicia a leitura do pedaço do seu voto que trata dos corruptores ativos. Entre eles os grão-petistas José Dirceu, Jose Genoino e Delúbio Soares. Barbosa condenará os três.
O texto do relator é longo. Estima-se que a leitura se estenderá pelo menos até a sessão de quinta (4). Os demais ministros só votarão na semana que vem. Porém, a três dias do encontro com as urnas municipais de 2012, o eleitorado ficará sabendo que, na visão de Barbosa, a fina flor do PT comprou deputados sob Lula.
De acordo com o Datafolha, 81% dos eleitores de São Paulo disseram que não mudaram sua opção de voto em função do mensalão. A despeito disso, a cúpula do PT está incomodada com o fato de o voto do relator escalar as manchetes assim, na beira da urna.
Além da tróica do PT, Barbosa deve grudar a pecha de 'corruptor ativo' num ex-ministro de Lula, Anderson Adauto (Transportes), em Marcos Valério, nos ex-sócios Ramon Hollerback e Cristiano Paz, no advogado Rogério Tolentino e na ex-diretora da SMP&B Simone Vasconcelos.
Há dúvidas quanto ao posicionamento do relator em relação à 'mequetrefe' Geiza Dias. Ex-funcionária da agência de Valério, era Geiza quem encaminhava ao Banco Rural as listas de sacadores das verbas sujas do esquema operado pelo chefe. Para Barbosa, ela também é culpada. Porém, Geiza foi absolvida pela maioria dos ministros do Supremo em capítulos anteriores. O relator pode concluir que não vale a pena dar murro em ponta de faca.
Ao votar pela condenação dos ex-comandates do politburo petista, Barbosa responderá à principal pergunta que pende do julgamento: se deputados foram comprados, quem realizou a compra? Dito de outro modo: se há corrompidos, tem de haver corruptores.
Na semana passada, já foi atingida a maioria de votos que condenou como corruptos passivos o deputado Valdemar Costa Neto (PR) e os ex-deputados Roberto Jefferson (PTB), Romeu Queiroz (PTB), Pedro Corrêa (PP), Carlos Rodrigues (ex-PL), e José Borba (PMDB). Falta um voto para que o deputado Pedro Henry (PP) seja incluído nesse grupo.
O julgamento será retomado nesta segunda-feira a partir do voto de Dias Toffoli, apenas insinuado na sessão da última quinta. Depois dele, os ministros Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Ayres Britto dirão o que pensam sobre os acusados de se corromper. Concluída essa fase, a palavra será devolvida a Barbosa, na quarta.
A defesa de José Dirceu sustenta que, acomodado na Casa Civil de Lula, ele distanciou-se dos negócios partidários. Barbosa dirá coisa diferente. Escorando-se nos elementos disponíveis nos autos, o ministro pretende demonstrar que Dirceu tinha ascendência sobre Genoino e Delúbio. Endossará a tese da Procuradoria segundo a qual o ex-ministro frequentou o escândalo na condição de chefe.
O relator recordará, por exemplo, as reuniões que Dirceu manteve com gestores do Banco Rural, sempre com a presença de Valério. Realçará o papel desempenhado pelo ex-ministro na montagem do condomínio partidário que deu suporte ao governo no Congresso. Recordará favores prestados por Valério a uma ex-mulher de Dirceu.
Prevê-se que o revisor Ricardo Lewandowski divergirá de Barbosa também nesse ponto. Mas a divergência só virá à luz na semana que vem, depois de abertas as urnas do primeiro turno da refrega municipal. Para desassossego do petismo, o andar da carruagem do Supremo não autoriza a conclusão de que a posição de Lewandowski prevalecerá sobre a de Barbosa.
O esquema esmiuçado pelo STF em ritmo de novela revela-se grandioso demais para que se atribuam todas as culpas apenas a Valério e Delúbio. Os elementos colecionados pela Polícia Federal e reunidos pela Procuradoria da República empurram para o epicentro da encrenca também José Genoino e José Dirceu. Em capítulo posterior, Dirceu, Genoino e Delúbio voltarão ao cadafalso, dessa vez para ser julgados por formação de quadrilha.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.