Manual de complôs do PT não previa Rosemary
Josias de Souza
30/11/2012 06h51
Falta à encrenca um Roberto Jefferson. Dessa vez o delator é Cyonil Júnior, um obscuro ex-auditor do TCU. Um sujeito que não tem razões aparentes para se vingar do governo ou de Lula. A oposição golpista, coitada, foi a última a saber. A mídia de direita, a penúltima. As denúncias chegaram primeiro à Polícia Federal, que as repassou ao Ministério Público.
Golpe? Não colaria. Deposição de ex-presidente é coisa nunca antes vista na história do universo. Conspiração midiática? Faltaria nexo. As manchetes chegaram atrasadas no lance, correm atrás do fato consumado. Caixa dois? Não ficaria bem. Os meios não justificariam os fins. Como se vê, o episódio, por inusitado, exige explicações mais criativas.
Não há dúvida de que está havendo um complô. De quem? Talvez do acaso. É melhor acreditar nisso do que ter que acreditar que todos os indícios colecionados pela PF correspondem ao que está na cara. Melhor aceitar a tese de que as apurações não passam de anomalias da lei das probabilidades conspirando contra um ex-presidente insuspeito.
Visionário, Lula enxergou em Rose um projeto de logomarca para tudo o que acontece no Brasil. Em vez de um tatu-bola Fuleco, uma assessora mequetrefe com talento para grandes jogadas. Na Era da presidenta, nada mais adequado do que uma mascota para receber os visitantes no aeroporto. Daí as dezenas de viagens de Rose ao exterior. Lula levava a auxiliar a tiracolo para dar-lhe cancha internacional.
Ao chegar para a Copa, os estrangeiros se divertiriam ao saber que Rose é personagem típica do Brasil de hoje –um país em que o Estado foi tão aparelhado que até uma servidora Fuleca pode alçar protegidos a postos graúdos. Com o tempo, a lenda de Rose cresceria. Os brasileiros logo invocariam Rose para ajudá-los a alcançar objetivos inatingíveis –de amores idealizados a empregos dos sonhos.
Como qualquer mascote, Rose seria estampada em bonés, sacolas e camisetas. Ela viraria boneca. Você daria corda para a esquerda e Rose ditaria ordens ao Lula: "Faça isso ou aquilo." Você daria corda para a direita e Rose telefonaria para uma agência reguladora: "O PR já deu o Ok. O JD já liberou."
Não, não e não. Melhor acreditar que tudo não passa de coisa de gente que, não tendo o que fazer, fica procurando pelo em ovo e discutindo o sexo dos anjos.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.