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PPS negocia novo partido com grupo de Marina

Josias de Souza

05/12/2012 05h36

Sem estrondos, o oposicionista PPS discute com Marina Silva e o grupo político dela a hipótese de criar um novo partido. A ideia é compor uma força política capaz de prover estrutura para que Marina concorra novamente à presidência da República em 2014.

Ex-petista, Marina disputou a sucessão de 2010 pelo PV. Sem máquinas, colecionou 19,33% dos votos válidos, obtendo um festejado terceiro lugar. Passada a eleição, desentendeu-se com a cúpula do PV e bateu em retirada, levando junto seu grupo. Fundou um movimento batizado de "Nova Política."

Marina permanece até hoje sem partido. Chamados de "marineiros", alguns de seus apoiadores abrigaram-se no PPS para poder disputar as eleições municipais de outubro passado. Expoente desse grupo, Ricardo Young elegeu-se vereador em São Paulo.

Amigo de Marina, que participou de sua campanha, Young agora faz a intermediação das conversas com ela. Move-se com autorização do presidente do PPS federal, o deputado Roberto Freire (SP). A negociação encontra-se em fase embrionária. Tenta-se azeitá-la porque, em tese, interessa aos dois lados.

Marina preferiria fundar um partido zero km. Para isso, teria de correr o país atrás dos 490 mil apoiadores que a lei exige. Nascido de uma costela do DEM, o PSD de Gilberto Kassab provou que não é fácil. Só obteve a certidão de nascimento no TSE ao final de um processo que teve de tudo: desde assinaturas de mortos até denúncias de compra de adesões.

Na hipótese de acertar-se com o PPS, Marina pouparia o trabalho e os constrangimentos. E o partido ganharia uma presidenciável competitiva. No gogó, o projeto prevê a filiação de outras personalidades e a fusão com pelo menos mais uma legenda nanica. Vitaminado, o PPS trocaria de nome.

O partido de Freire não é neófito nessa matéria. Por razões diversas, o PPS fundira-se, em novembro de 2006, aos nanicos PMN e PHS. Juntaram-se sob nova logomarca: MD (Mobilização Democrátiva). Por que? Vigorava nessa época a lei que impunha aos partidos uma 'cláusula de barreira'.

Por essa cláusula, legendas que não tivessem pelo menos 5% dos votos válidos na eleição para a Câmara dos Deputados passariam a ter existência vegetativa. Entre outros direitos, perderiam a propaganda gratuita no rádio e na tevê, o acesso às verbas do Fundo Partidário e assentos nas comissões do Legislativo.

Sozinho, o PPS não cumpria a cláusula legal. Daí a junção ao par de nanicos. Decorridos dois meses, a Justiça Eleitoral extinguiu a exigência de desempenho mínimo. E o PMN requereu a dissolução da fusão.

O PPS volta à pista num instante em que o PSDB dá de barato que seu velho aliado não hesitará em associar-se à caravana presidencial de Aécio Neves. Não são negligenciáveis as chances de dar chabu.

Excetuando-se o diretório de Minas Gerais, majoritariamente fechado com o senador tucano, os filiados do PPS em outros Estados olham ao redor à procura de nomes alternativos. Enxergam pelo menos dois: além de Marina, Eduardo Campos (PSB).

Procurado pelo repórter, Roberto Freire admitiu que o partido mantém conversas com Marina. Absteve-se, porém, de descer aos detalhes. De resto, disse que "é muito bom que existam várias opções" para 2014. "O que não pode é deixar de construir alternativas a isso que está aí".

No dizer de Freire, seu partido "está aberto para discutir um projeto para o país -seja com Aécio, com Marina ou com Eduardo. É cedo para a definição de um nome." Líder do PPS na Câmara, o deputado Rubens Bueno (PR) também admitiu a negociação com Marina.

Ele recordou que, num congresso realizado no ano passado, o PPS aprovara moção a favor da candidatura própria. A exemplo de Freire, Bueno não exclui do tabuleiro nem Aécio nem Eduardo Campos, com quem desenvolveu uma boa amizade na Câmara.

– Atualização feita às 20h52 desta quarta-feira (5): a propósito da notícia acima, Marina Silva enviou uma nota ao signatário do blog. No texto, ela escreve que participa de um movimento suprapartidário que pode desaguar na formação de um novo partido. Mas nega que esteja negociando com o PPS, como afirmaram dirigentes da legenda. "…Em nenhum momento sinalizei interesse em fundar um partido a partir da fusão de partidos já existentes", escreve. Vai abaixo a íntegra da manifestação de Marina:

Caro Josias, aprecio e respeito muito o seu trabalho, e em razão disso acho importante informar a você e a seus leitores que eu não estou negociando a formação de um novo partido com o PPS, nem por meio de interlocutores, como pode ser compreendido do post "PPS negocia novo partido com grupo de Marina", publicado hoje em seu blog.

É de conhecimento público que tenho atuado na sociedade em torno de um movimento suprapartidário, que tem por objetivo o aprofundamento da discussão e da prática da democracia e da sustentabilidade.

Nesse movimento, há aqueles que consideram importante a criação de um partido político. De minha parte, continuo refletindo sobre qual seria a melhor forma de contribuir para esse objetivo. Tenho conversado com pessoas próximas, com lideranças políticas e de movimentos sociais identificadas com os ideais da sustentabilidade, mas em nenhum momento sinalizei interesse em fundar um partido a partir da fusão de partidos já existentes.

Se ocorrer a criação de um novo partido, oriundo desse movimento do qual faço parte desde que me desfiliei do PV, será fruto da expressão, da vontade e do adensamento das discussões realizadas pelo movimento".

Cordialmente, Marina Silva

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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