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Mensalão pagou despesas de Lula, diz Valério

Josias de Souza

11/12/2012 04h40

Num instante em que o STF se aproxima da conclusão do julgamento do mensalão, Marcos Valério virou a página do escândalo. Para trás. Veio à luz o teor do depoimento prestado pelo ex-operador das arcas clandestinas do PT à Procuradoria Geral da República. Nele, Valério acende vários pavios.

Em notícia veiculada nesta terça (11), os repórteres Felipe Recondo, Alana Rizzo e Fausto Macedo informam que Valério falou por três horas e meia. Deu-se em 24 de setembro, depois que o STF já o havia condenado. Suas declarações preencheram 13 folhas. A certa altura, declarou que parte do dinheiro sujo que amealhara pagou despesas pessoais de Lula.

Segundo Valério, o dinheiro que cobriu gastos de Lula foi repassado no início de 2003, época em que Lula já era presidente. Mencionou dois depósitos feitos na conta de empresa de Freud Godoy –um deles de "quase R$ 100 mil". Espécie de "faz-tudo" de Lula, Godoy passou pelos quadros da Presidência como assessor.

Noutro trecho do depoimento, Valério informou à Procuradoria que Lula deu o seu "Ok" para os empréstimos bancários fictícios que deram aparência legal ao dinheiro repassado a deputados e partidos do conglomerado governista. Nessa versão, Lula deu endosso verbal às transações em reunião no Planalto, com as presenças de José Dirceu e Delúbio Soares.

Valério disse ter ouvido de Dirceu que Delúbio negociava em seu nome e no de Lula. Procurado do Paris, onde se encontra, Lula preferiu não comentar. O advogado de Dirceu refutou as acusações.

Não é só: Valério disse que foi o PT quem pagou os R$ 4 milhões de honorários dos advogados que o defendem no processo do mensalão. Há mais: o "arquivo" vivo declarou que o petismo o ameaçou de morte. Há pior: segundo ele, a ameaça foi verbalizada por Paulo Okamotto.

Okamotto é velho amigo de Lula. Presidiu o Sebrae. Hoje, dirige o instituto que leva o nome do ex-presidente e é sócio dele numa empresa que vende palestras. Segundo Valério, Okamotto procurou-o em nome de Lula. Disse-lhe o seguinte, segundo consta do depoimento: "Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você." Aconselhou-o a silenciar.

Procurador, Okamotto mandou dizer, por meio da assessorial, que só responderia a Valério depois de tomar conhecimento do inteiro teor do depoimento. Já era sabido que Valério abrira o bico na Procuradoria. Em troca de sua inclusão no programa de proteção a testemunhas, prometeu fornecer mais detalhes.

O procurador-geral Roberto Gurgel insinuara que, terminado o julgamento do STF, talvez desse atenção a Valério. Considerando-se o teor das declarações, a investigação se impõe. O petismo diz que Valério, por desqualificado, não merece atenção. Bobagem. Até ontem, o PT considerava-o qualificadíssimo. De resto, as confissões de crimes não costumam pingar dos lábios de frades.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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