Lula diz que não será derrotado por ‘vagabundo’
Josias de Souza
19/12/2012 16h52
Embora não tenha dado nome aos bois, Lula referia-se a Marcos Valério. Em 24 de setembro, com a alma incendiada pela condenação do STF, o operador do mensalão usufruiu da atmosfera refrigerada de um gabinete da Procuradoria da República por três horas e meia. Prestou um depoimento no qual lançou Lula na fogueira. Disse que ele recebeu dinheiro sujo para pagar despesas pessoais e autorizou os empréstimos de fancaria que forniram as arcas clandestinas do PT.
Convertida em ato de desagravo a Lula, a cerimônia do sindicato arrastou políticos do PT e do PCdoB, direigentes da UNE e de entidades sociais. O ambiente foi adornado com faixas belicosas: "Lula é meu amigo, mexeu com ele mexeu comigo". Oradores inflamados criticaram os meios de comunicação e o Poder Judiciário. Como se a imprensa e o STF fossem responsáveis pelo relacionamento vadio que o PT e o governo Lula mantiveram com Valério no primeiro reinado do petismo.
Presidente da CUT, Vagner Freitas atribuiu os dissabores experimentados por Lula a uma suposta perseguição elitista. "A elite percebeu que não consegue ganhar as eleições, então quer jogar no tapetão, no Poder Judiciário", disse o companheiro. "Se quiserem colocar a democracia em jogo, vamos para a rua pelo direito de eleger quem quisermos."
O mandachuva do baronato sindical ainda não se deu conta. Mas o Brasil vive sob a égide do Estado democrático de direito. A CUT não precisa ir às ruas pelo direito de votar livremente. Todo mundo pode votar em quem quiser, exceção feita aos mensaleiros condenados. Esses, além de estar com a cidadania política suspensa, talvez estejam na cadeia na próxima eleição.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.