Ciro critica Lula em encontro com empresários
Josias de Souza
25/01/2013 04h48
Ciro Gomes tem enorme admiração por Lula. Mas de uns tempos pra cá, verificando todas as ressalvas que faz ao ex-presidente, e dividindo sua afeição por elas, viu que o percentual de respeito que sobrou é muito pequeno. Acionou a língua e tornou-se um aliado de dois gumes.
Nesta quinta (24), falando a um grupo de jovens empresários cearenses, Ciro insinuou que Lula manipula o eleitorado. "Gosta muito do povo, desde que ele fique em cima mandando em todo mundo", disse. Empurrado por Lula para fora do tabuleiro de 2010, Ciro recordou a montagem da aliança pró-Dilma Rousseff.
"A minha ideia era que todos os partidos lançassem candidato no primeiro turno. Depois, ele [Lula] quis manipular e pressionou todo mundo a apoiar ela [Dilma]". Para Ciro, esse tipo de procedimento é um "grande problema político do Brasil". Por quê? Desvirtua-se o primeiro turno, sonegando ao eleitor a oportunidade de analisar múltiplas candidaturas.
E quanto a 2014? Numa espécie de troco ao governador pernambucano e presidente do PSB, Eduardo Campos, que ajudou Lula a escanteá-lo em 2010, Ciro agora não vê sentido numa candidatura própria do seu partido.
Ele questiona: "Qual é a justificativa para nós, que apostamos na Dilma em 2010, quando deveríamos ter lançado candidatura própria pois ela era mera aposta, para lançar candidato agora, que nós vemos que ela quer fazer o governo que achamos correto?"
Na conversa com os empresários, Ciro fez comentários sobre a equipe de Dilma. Afirmou que Aloizio Mercadante, atual ministro da Educação, jamais frequentaria a Esplanada sob Lula. "Ele é preterido indefinidamente porque é excessivamente educado e sério. Ele sabe ler." Curiosamente, o próprio Ciro foi ministro de Lula. Sabe ler. Mas não é lhano como Mercadante.
Deve-se o azedume de Ciro à movimentação de Lula na campanha municipal do ano passado. Em Fortaleza, o ex-amigo foi ao palanque de Elmano de Freitas (PT), contra Roberto Cláudio (PSB), candidato de Ciro e do irmão dele, o governador cearense Cid Gomes. A despeito do envolvimento de Lula, o 'poste' dos Gomes prevaleceu.
Agora, Ciro declara que a ex-prefeita petista Luiziane Lins não deixou para Roberto Cláudio uma herança benfazeja. O novo prefeito, disse ele, precisa divulgar um inventário do que encontrou. No dizer de Ciro, uma administração mergulhada em "esculhambação e roubalheira".
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.