Henrique: ‘Antes do Carnaval, criarei comissão para examinar e votar o orçamento impositivo’
Josias de Souza
04/02/2013 14h18
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) informou ao blog que sua primeira providência como presidente da Câmara será "a criação de uma comissão especial para examinar e votar uma proposta de orçamento impositivo para as emendas" dos parlamentares ao Orçamento da União. "Não vou esperar nem o Carnaval passar", disse o deputado, que acaba de ser eleito por seus pares. "Não quero que nenhum samba atravesse esse assunto."
Há na Câmara três propostas de emendas constitucionais sobre as emendas orçamentárias de congressistas. Hoje, o Orçamento da União é apenas autorizativo. O governo executa se quiser. O que os deputados desejam é obrigar o governo a liberar as verbas previstas nas suas emendas. O Planalto é contra. Porém, Henrique diz que chegou a hora de acabar com o modelo de "liberações em conta-gotas".
Para ele, o bloqueio das verbas "humilha os parlamentares e apequena o Parlamento." Daí a disposição de tornar obrigatória a execução das emendas. "Não vamos confrontar, mas negociar com o governo. Uma das possibilidades é direcionar as emendas para projetos prioritários do governo em áreas como saúde, educação, segurança e infra-estrutura. Essa é uma providência óbvia. Não sei porque não foi feito antes."
Abaixo, outros temas aos quais Henrique diz que dará prioridade:
– Vetos: segundo Henrique, o Congresso "tem que fazer um mea culpa". Por quê? "Houve uma omissão nossa. Há 12 anos que não votamos os vetos presidenciais. Acumularam-se 3 mil vetos. Temos que eliminar esse contencioso e criar regras que impeçam a repetição do problema", disse.
O novo presidente da Câmara recorda que o ministro Luiz Fux, do STF, decidiu que "os vetos têm de ser votados em ordem cronológica." Isso fez dos 3.060 vetos pendentes de apreciação "um grande abacaxi". Para descascá-lo, "vamos ter que fazer um pacote com os vetos mais antigos, que já não faz sentido analisar, para aprovar rapidamente num mutirão. Aqueles mais importantes, que a oposição deseja legitimamente discutir, vamos enfrentar no voto. Pode durar quatro ou cinco semanas. Mas vamos resolver."
– Medidas provisórias: conforme prometera aos partidos de oposição, o eleito Henrique reitera que instituirá na Câmara um sistema de rodízio na escolha dos relatores de medidas provisórias. "De novo, temos que reconhecer que estávamos errando. O mea culpa não nos diminui. Não dá mais para restringir as relatorias a deputados da base do governo. Isso deprecia os deputados."
– TV Câmara: "A emissora será mais Câmara do que tevê." Como assim? "Nos fins de semana, a TV Câmara tem até programas sobre arte. É muito bonito, mas outros canais já fazem isso. É preciso mostrar que os deputados trabalham também no final de semana. A TV Câmara, em convênio com emissoras das assembléias legislativas, terá de exibir a programação dos parlamentares."
– Nova agenda: Henrique disse que fará "uma pauta intensa para discutir com os governadores." No topo da agenda, afirmou, estará "a questão do pacto federativo". Acha que "está esgotado" o modelo atual de repartição dos impostos e atribuições entre União, Estados e municípios. "Vamos ter propostas objetivas sobre esse e outros temas. Não é retórica. Parlamento não foi feito para empurrar com a barriga. Foi feito para discutir à exaustão. Mas chega uma hora de decidir."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.