Renan: ‘debate presidencial deve ser congelado’
Josias de Souza
05/02/2013 03h16
Bons tempos aqueles em que o faroeste era nos EUA! Agora é no Senado brasileiro. Julgando-se alvejado pela má vontade do senador Aécio Neves (PSDB) e do governador Eduardo Campos (PSB), Renan Calheiros (PMDB) fez meia dúzia de disparos de advertência ao discursar na sessão inaugural do ano legislativo.
"Ainda que alguns estejam ansiosos para precipitar 2014, é oportuno sublinhar que temos uma agenda de votações prementes para o Brasil" em 2013, disse. Renan inclui quase tudo em sua "agenda" –inclusive as reformas política e tributária. No Congresso é assim. Quando alguém não sabe o que dizer, anuncia uma proposta de reforma política. Quando tem dificuldade para se explicar, saca a reforma tributária. Se a falta de assunto chega junto com denúncias, saca as duas.
Renan tinha ao seu lado Joaquim Barbosa, presidente do STF –o tribunal em cujos escaninhos corre a denúncia da Procuradoria contra o Trinity do Senado. Sem dar nome aos alvos, Renan disse: "Não é hora de falar em eleição, mas sim em união." Mais adiante: "A lógica do quanto pior melhor, tenho certeza, está sepultada. A união de todos pelo bem comum é um compromisso de todos os brasileiros."
Levou o dedo ao gatilho uma vez mais: "A missão de todos nós é trabalhar muito para atenuar os efeitos da crise e deixar as miudezas para os pequenos. Estes são os novos tempos e eles não acolhem disputas intempestivas e intrigas dispersivas. Diante das incertezas recorrentes, considero prudente que o debate presidencial, tema absolutamente extemporâneo, seja congelado."
Considerando-se que Aécio Neves e Eduardo Campos ainda não retiraram suas pretensões eleitorais do freezer e que as reformas de Renan são disparos de festim, a plateia encarece: me chamem quando começar a quebradeira das mesas do saloon. Aqui, a íntegra do discurso de Renan.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.