Com Lula e Dilma, PT festeja 10 anos de poder
Josias de Souza
07/02/2013 07h09
O PT decidiu celebrar os seus dez anos de poder federal. Programou a realização de 13 seminários em diferentes regiões do país. O primeiro terá as presenças de Lula e Dilma Rousseff. Será em São Paulo, no dia 20 de fevereiro. Secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi explica o sentido da pajelança:
Deseja-se "construir uma narrativa própria do PT, juntamente com seus militantes, sobre a chegada à Presidência da República e as mudanças desempenhadas durantes estes 10 anos…" Afora o discursório, haverá uma exposição. "Temos uma quantidade enorme de material", diz Frateschi.
O tal "material" conta a história dos oito anos da presidência de Lula e da primeira metade do mandato de Dilma. O combate à pobreza, a formação do mercado interno, vai listando Frateschi. "Não aceitamos a tese de que é preciso crescer para dividir. Nós fomos dividindo com o povo brasileiro ao mesmo tempo em que crescíamos."
Como se vê, o pedaço benfazejo do enredo já foi esboçado. Porém, nas pegadas de um ano ruim –pibinho de 1% e Waterloo no STF— será interessante observar como o PT encaixará a peça do mensalão no quebra-cabeça da sua "narrativa própria". Se convidados a discursar, os companheiros sentenciados decerto darão um colorido historiográfico ao seminário.
Veja-se, a propósito, o que ocorreu na noite passada. A celebração de seis décadas de militância política do ex-deputado Ricardo Zarattini converteu-se em desagravo aos quatro petistas sentenciados: José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e Delúbio Soares.
Autor do discurso mais esbraseado, João Paulo despejou na atmosfera analogias desconexas: "Teve um presidente vitimado pelo mesmo tipo de campanha que tem hoje. Ela levou Getúlio Vargas a dar um tiro no peito. Ele não suportou e teve que se matar. E o que os poderosos fizeram com João Goulart? Depuseram e colocaram a ditadura". Para ele, o mensalão deveria ser rebatizado de "mentirão."
Aos 33 anos, dez dos quais com a chave do cofre e a poltrona do Planalto, o PT já está numa idade em que a cosmética e a plástica não podem fazer mais nada. Precisa agora de um tablete de simancol dissolvido num composto de bom-senso. É isso ou uma estaca.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.