Exército apura cobrança de propina por oficiais
Josias de Souza
09/02/2013 19h34
Sindicância aberta pelo Exército apura denúncia feita contra oficiais que atuam no setor de compras. Eles estariam condicionando a assinatura de contratos com empresas vencedores em licitações ao pagamento de propinas. A coisa começou a cheirar mal no final do ano passado, quando uma empresária paranaense procurou o senador Roberto Requião (PMDB-PR).
Chama-se Iracele Mascarello a empresária que levou os lábios ao trombone. É dona do Grupo Mascarello, fabricante de ônibus. Conforme relato do repórter Hugo Marques, ela procurou Requião em novembro do ano passado. Contou ao senador que sua empresa vencera uma licitação para fornecer 65 ônibus ao BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) –negócio de R$ 17,8 milhões.
Às vésperas da assinatura do contrato, contou Iracele a Requião, oficiais do Exército contactaram um representante da empresa em Brasília. Informaram que a formalização do negócio exigiria o pagamento de propina. Informado, o senador decidiu passar a informação adiante. Requião foi à presença do ministro Aloizio Mercadante (Educação).
Filho de general e irmão de coronel, Mercadante contou o que ouvira a duas pessoas: o comandante do Exército, general Enzo Peri, e Dilma Rousseff. A presidência exigiu providências. Abriu-se uma sindicância, ainda inconclusa. E o contrato com a Mascarello foi, finalmente, assinado. Sem o 'por fora'.
A denúncia chega às manchetes oito meses depois de Dilma ter lançado, em junho do ano passado, um bilionário programa de compras de máquinas e materiais para os ministérios. Deu-se ao programa o apelido de PAC Equipamentos. Foi orçado em R$ 8,4 bilhões. Um pedaço dessa cifra será aplicado na reequipagem das Forças Armadas.
Numa conta que inclui de caminhões a lançadores de mísseis, o Exército já gastou R$ 1,8 bilhão. É contra esse pano de fundo monetário que se processa a investigação sobre a cobrança de propinas por oficiais. Em nota, o Exército informou:
"A citada sindicância se encontra em curso e, até o presente momento, não há como comprovar a ocorrência de propina no referido processo. Registre-se que o processo licitatório já foi concluído e a empresa representada pelo denunciante contemplada na forma do que está previsto nas normas vigentes."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.