PDT já balança entre Dilma e Eduardo Campos
Josias de Souza
14/02/2013 05h25
Presidente do PDT federal, Carlos Lupi tornou-se um governista de dois gumes. Negocia com Dilma ao mesmo tempo em que flerta com o PSB de Campos. Longe dos refletores, informa que, desatendido por uma, não deixará de considerar a hipótese de associar-se ao outro.
Para Dilma, o PDT está representado na Esplanada pelo deputado Brizola Neto, ministro do Trabalho. Expurgado dessa pasta na pseudofaxina de 2011, Lupi discorda. Alega que o neto de Leonel Brizola virou ministro por vontade de Dilma, não por indicação do partido. Quer manter o ministério. Mas com outro ministro.
Além da fisiologia de Lupi, um pedaço do PDT nutre simpatias por Eduardo Campos por razões menos inconfessáveis. Parte da legenda enxerga no governador pernambucano uma alternativa à hegemonia exercida por PT e PMDB.
Lupi esteve com Dilma antes do Carnaval. Na sequência, veiculou-se na rede de comunicação do partido na internet um texto com o seguinte teor: na reforma ministerial, Brizola Neto deixará o ministério. Para o lugar dele, Dilma nomeará o deputado Vieira da Cunha (PDT-RS), afinado com Lupi. Um parlamentar da legenda tocou para o celular de Lupi. Deu caixa postal.
Na frase seguinte, Taques e Cristovam desceram ao ponto: "Não vamos ser oposição pela direita, mas não podemos perder nossa identidade, nossa busca por um projeto alternativo para o Brasil." Recordam que se opuseram à ida de Lupi para a pasta do Trabalho e à substituição por Brizola Neto.
Agora, acrescentam os senadores, discordam mais ainda da ideia de substituir o substituto por alguém ligado ao antecessor, "mesmo que seja um grande e respeitável quadro como Vieira da Cunha". Insinuam que Dilma não conseguirá unificar o PDT a golpes de caneta. "Se a presidente Dilma acha que vai pacificar o PDT está errada. Nossa posição deve ser de independência pela esquerda."
As cornetas do PDT soam num instante em que o partido se prepara para uma convenção nacional, a realizar-se em março. Lupi sinaliza para Dilma que o Diário Oficial precisa dizer alguma coisa antes desse encontro.
Lupi sempre teve diálogo fácil com Aécio, cujo governo o PDT também compartilhou. A exemplo de Eduardo Campos, o rival tucano de Dilma acalenta a expectativa de atrair o PDT para o seu projeto presidencial. Quem conhece Lupi não descarta a hipótese de desenvolver-se nele um terceiro gume. Hoje, porém, a nata da legenda fareja um interesse crescente pela novidade de Pernambuco.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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