Aécio Neves entrou em campo, mas não fez gol
Josias de Souza
20/02/2013 19h30
O presidenciável tucano Aécio Neves subiu à tribuna do Senado para dizer que o PT esqueceu de convidar "a autocrítica, a humildade e o reconhecimento" para sua festa de 33 anos de vida e uma década de poder. Afirmou também que, "ao comemorar o seu aniversário falando do PSDB, o PT transformou o nosso partido no convidado de honra da sua festa."
Irônico, Aécio disse ter aceitado o "convite" porque tem "muito a dizer aos anfitriões". Provocativo, evocou o número que identifica o PT nas urnas, listou "13 dos maiores fracassos e das mais graves ameaças" produzidas sob Lula e Dilma Rousseff e desceu o sarrafo no aniversariante. Pode-se dizer que Aécio entrou, finalmente, em campo. Não é pouca coisa. Sobretudo quando se considera o curto-circuito cerebral que desligou a oposição.
A íntegra do discurso de Aécio está disponível aqui. O senador parte de premissas verdadeiras –do risco inflacionário à paralisia da economia, das carências na saúde à complacência com a corrupção— e chega a um lugar comum: com todos os avanços, o Brasil ainda é um empreendimento por fazer. Satanizou o petismo. Pode-se concordar ou discordar dele. Mas isso não tem a menor importância.
O mais relevante é notar que Aécio, o centro-avante do tucanato, percorreu o gramado sem fazer gol. Não se deu conta de que, como alternativa presidencial, sua obrigação é oferecer soluções e sonhos. O tomate ficou mais caro, o PIB não chega a 2%, faltam leitos nos hospitais e há mensalões na política. Tudo isso é verdadeiro. Porém…
O eleitor brasileiro irá às urnas em outubro de 2014. E ninguém que disponha de dois neurônios vai eleger um presidente para passar quatro anos falando mal do antecessor ou bem de si mesmo. Aécio sabe como se faz. Assistiu, em 1984, à consagração do avô Tancredo Neves. Sabe que ele virou unanimidade nacional e maioria no colégio eleitoral porque vendeu esperança. Bem verdade que deu em José Sarney, mas essa é outra história.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.