Eduardo Campos: ‘Sinto os sinais de renovação’
Josias de Souza
17/03/2013 21h33
Eduardo Campos, um governista cada vez ma non troppo, não dá mais um passo sem tropeçar em 2014. Seus cumprimentos soam como inaugurações do bom dia. Em cada frase, um discurso. O governador pernambucano não vai ao meio-fia sem levar à mão um comício.
Nas pegadas da semana em que roubou a cena num encontro de governadores em Brasília, fez palestra para industriais no Rio e jantou com varejistas em São Paulo, Eduardo foi à praia. Lançou em Recife o "Praia sem Barreiras", programa concebido para facilitar o acesso de pessoas com problemas de locomoção às areias.
Ao lado de Geraldo Julio, o "poste" que acomodou na prefeitutra da capital pernambucana no ano passado, Eduardo participou de uma partida de vôlei sentado. "Estou jogando melhor sentado do que em pé", comentou, entre risos, negando uma vez mais que esteja em campanha.
Ao deparar-se com os microfones, em número cada vez maior, o não-candidato subiu no caixote. Um dia depois de Dilma Rousseff ter defendido o fortalecimento de sua coalizão na cerimônia de troca de comando em três ministérios, Eduardo criticou os "velhos pactos políticos". Heimm?!?
"O pacto político, ao meu ver, que vai ser capaz de fazer as mudanças continuarem, acelerarem, não será conservador, com as velhas políticas, com aquilo que incomoda a sociedade brasileira. O prazo acho até que está passando, porque a gente precisa dessa renovação."
Membro da coalizão que critica, Eduardo diz que não é possível prever quando virão as mudanças. Mas fala como se as farejasse. "Eu já sinto os sinais do processo de renovação." Hã?!?
Evocando a eleição municipal do ano passado, na qual rompeu com o PT pernambucano e prevaleceu sobre o ex-aliado na disputa pela prefeitura de Recife, o governador fustigou: "Vi isso aqui em Pernambuco, fiz parte desse processo de renovação."
Eduardo repisou o que dissera no repasto com empresários paulistas. "Vi uma dose grande de pessimismo nas perguntas […]. Eu disse que sou um otimista, que nos últimos anos se fez muito. Mas também disse que pode ser feito mais."
Sócio do condomínio que governa o país desde 2003, o presidenciável do PSB virou o que Nelson Rodrigues chamaria de um aliado de passeata. Cada frase de Eduardo vale por um panfleto contra o governo de Dilma Rousseff:
"[…] Precisamos fazer mais, sim. Até porque tivemos dois anos muito duros para o Brasil, 2011 e 2012, e precisamos ganhar 2013. Infelizmente o debate eleitoral foi antecipado e aí, tudo que a gente disser, sempre se puxa para a questão eleitoral. É um direito que se puxe para a questão eleitoral, como é um direito meu continuar discutindo o Brasil…"
E quanto a Dilma? "Com o espírito público que ela tem, provavelmente deseja fazer mais. A cidadania quer mais, essa é a questão." Eduardo cobrou uma reforma tributária. E disse que as desonerações iniciadas sob Lula e mimetizadas por Dilma viraram remédio ineficaz contra a crise.
"Ultimamente, estamos fazendo desonerações tributárias muito pontuais, que são importantes para determinados setores. Mas acho que os efeitos dessa desoneração sobre a economia já demonstraram que elas, a cada dia que passa, são muito limitadas. É como se você já tivesse acostumado o organismo com determinado tipo de medicamento e determinada dose."
Todo ser humano é um ator à procura de plateia. Representa para uma namorada, para os familiares, para os vizinhos, para os credores… Dono de índices de popularidade altíssimos no seu Estado, Eduardo Campos faz pose para o resto do país. Pose de presidenciável.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.