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Para Temer, candidatura de Eduardo Campos não tira favoritismo de Dilma nem no Nordeste

Josias de Souza

22/03/2013 13h38

Consolidado como parceiro de Dilma Rousseff na chapa reeleitoral de 2014, o vice-presidente Michel Temer declara: "Hoje, ela é francamente favorita". Diverge dos que crêem que uma eventual candidatura de Eduardo Campos possa prejudicá-la junto ao eleitorado nordestino. "O que eu suponho é que não haverá essa dificuldade para a presidenta Dilma no Nordeste."

Temer concedeu uma entrevista ao blog nesta quinta-feira (21). Disse que a antecipação do calendário eleitoral "não é útil nem para o governo nem para o país". Curiosamente, responsabiliza "os outros candidatos" pelo fenômeno. Referia-se a Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB).

Ora, mas não foi Lula quem lançou Dilma prematuramente na festa de aniversário do PT, em 20 de fevereiro? Sim, Temer reconheceu, "mas esse lançamento também foi fruto de uma provocação, não é?" Prosseguiu: "Como houve muita antecipação dos outros candidatos, o ex-presidente Lula resolveu fazer esse lançamento." Quanto a Dilma, "em nenhum momento ela saiu fazendo campanha do tipo 'eu sou a candidata'."

Temer disse que ainda torce para que Eduardo Campos renove seu apoio a Dilma. Naturalmente, sem ambicionar a segunda posição na chapa. O que ocorreria se o PMDB fosse desalojado da vice para que a vaga fosse cedida ao PSB? Temer esboçou um sorriso: "Prefiro nem responder isso, porque não seria uma coisa útil."

Convidado a analisar os reflexos da entrada de Eduardo Campos na disputa, o vice-presidente soou como se desejasse circunscrever o potencial do futuro antagonista. "Ele vai tirar muitos votos em Pernambuco", avaliou. Porém, graças ao "trabalho" de Lula e Dilma, "Pernambuco ainda dará muitos votos à presidenta", reavaliou, antes de concluir que não antevê "dificuldade" naquele pedaço do mapa brasileiro.

"O Nordeste, nesses últimos anos cresceu economicamente 42%", Temer enfatizou. "Isso será reconhecido durante as eleições, com a presidente Dilma candidata." O vice-presidente ancorou o otimismo no Ibope de Dilma –"Não é fácil atingir 79% de aprovação nacional"— e na "economia do cotidiano".

Na opinião de Temer, o prestígio de Dilma permanecerá alto enquanto "o cidadão tiver o seu dinheiro para comprar frango no supermercado –e agora, ainda, com a cesta básica desonerada—, para comprar seu liquidificador, sua geladeira, seu fogão, e até, às vezes, seu carro."

O crescimento miúdo e a inflação graúda não podem conspurcar o cenário? "Nós entramos o ano com preocupações, é verdade. Mas já com uma perspectiva de um PIB maior para 2013." O essencial, diz Temer, é observar que "a crise internacional não chegou a criar desemprego no Brasil".

Sobre os ajustes no ministério, Temer tentou dissociá-los da formação dos palanques. Disse que o objetivo do governo não é a revitalizar a aliança eleitoral, mas influir na "participação dos partidos lá no painel de votação da Câmara e do Senado". Enfatizou: "O foco não é 2014, é a votação no painel."

Comentou as recentes declarações de Jorge Gerdau. Para recordar: em entrevista a Fernando Rodrigues e Armando Pereira Filho, o empresário criticou o excesso de ministérios. Para ele, um gabinete com meia dúzia de pastas estaria de bom tamanho. Com 39 ministérios, a burrice "talvez já tenha chegado ao seu limite".

E Temer: "Não vejo como reduzir 39 ministérios a seis, acho uma coisa complicada. E não conheço nenhum país que sobreviva politicamente e administrativamente com um número tão pequeno de ministérios." Não exclui a hipótese de um futuro enxugamento. Condiciona-o, porém, à conjuntura e à realização de estudos.

Um pedaço da conversa foi dedicado à obra "Anônima Intimidade", o livro de poesias que Temer lançou no mês passado. "Escrevi em guardanapos de papel no avião", ele recordou. "Era o meu interior se exteriorizando". Não espera virar autor de best seller. Mas saboreia o êxito dos 1.200 exemplares vendidos na noite de autógrafos. Degusta também a ausência de espinafrações. "Graças a Deus não houve uma crítica ácida em relação aos poemas."

Temer revelou a intenção de levar novos livros à estante: "Sou calouro nas letras sentimentais, portanto, sujeito a críticas. Ma, se puder, continuo nessa senda. Sempre escrevi livros técnicos, na área de direito constitucional. E agora comecei a mudar."

Septuagenário, Temer muda para a adolescência: "Era uma coisa que eu pensava aos 16 anos de idade. Eu achava que seria escritor. Depois, a vida me levou para outros lugares. Então, eu penso: puxa, escrever agora poesia e romance é retornar aos 16 anos. E nessa minha idade, convém retornar aos 16 anos."

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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