Para FHC, Dilma governa com ‘piruetas virtuais’
Josias de Souza
07/04/2013 05h23
Falta método ao governo Dilma Rousseff, sustenta Fernando Henrique Cardoso em artigo veiculado neste domingo. No texto, ele espinafra a presidente sem mencionar-lhe explicitamente o nome. Insinua que ela governa na base das "piruetas virtuais". Avalia que o Brasil reincide em "equívocos voluntaristas do passado". Faz isso com uma "grandiosidade que não corresponde à realidade."
Contra o risco de baixo crescimento econômico, escreveu FHC, "vão sendo anunciados a cada dia novos planos e programas" que "só saem do papel morosamente e, muitas vezes, nem isso." Por quê? "Talvez porque acreditemos demais em grandes planos salvadores e menos no método, na rotina, na persistência e na inovação para acelerar o caminho."
Para remediar as deficiências da infraestrutura, prossegue FHC, "propõem-se sempre mais projetos grandiosos e tanto o governo como seus arautos se perdem em discursos grandiloquentes." Contra a alta da inflação, recorre-se ao "imediatismo e atropelo na concessão de subsídios, isenções e favores substituem a pachorrenta persistência em uma linha de conduta coerente que, menos espalhafatosamente, possa levar o país a dias melhores."
A pretexto de investir no petróleo do pré-sal, abandona-se todo o resto: "Largamos o etanol, […] não investimos suficientemente nas áreas fora do pré-sal e desdenhamos o que de novo pode ter havido no mundo, como as inovações na extração do óleo e do gás do xisto como fizeram os americanos."
Na opinião do morubixaba da tribo dos tucanos, "o xis da questão" no Brasil é simples de ser formulado, mas difícil de ser executado. Consiste em saber "como passar da quantidade para a qualidade, do palavrório para uma gestão prática", da "sociedade de espetáculo" para a "sociedade decente, na qual a palavra corresponda a fatos e não a piruetas virtuais."
FHC diz acreditar que o Brasil que preconiza é um país "possível". Desde que Dilma não seja reeleita. "É preciso mudar de guarda", anotou. "Esperemos 2014." Pressionando aqui, você chega à íntegra do artigo. "Razão e bom senso", eis o título. O Brasil aparece no texto da metade para baixo.
Antes, FHC falou de "crise financeira e desatinos políticos" que enxerga noutros pedaços do globo. Mencionou alguns episódios: "A Coreia do Norte bravateia…", o Dr. Bashar Assad, filho do carniceiro da Síria, fecha sua clínica médica em Londres para substituir o pai e bombardear conterrâneos; e o Chipre expropria contas bancárias sem distinguir o dinheiro sujo do limpo.
FHC parece considerar que há uma espécie de surto de desatino no mundo. "Não basta ser inteligente, é preciso ser razoável e prudente para evitar que as paixões se sobreponham à razão. É preciso ter juízo", escreveu. Considera "grande o risco de ações impulsivas comprometerem o que é razoável." Foi nesse contexto que ele injetou o governo de Dilma Rousseff. No limite, acha que falta juízo a Dilma. O diabo é que, levando-se em conta as pesquisas, a plateia está adorando a ausência de bom senso.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.