Entidades de juízes atacam Barbosa e o acusam de ‘premeditar’ conversa ‘agressiva’ e ‘grosseira’
Josias de Souza
09/04/2013 16h53
Um dia depois do encontro em que ouviram críticas e admoestações do presidente do STF, Joaquim Barbosa, os dirigentes das três principais associações de juízes do país divulgaram uma nota conjunta. No texto, insinuam que foram vítimas de uma emboscada. Afirmam que "ao permitir, de forma inédita, que jornalistas acompanhassem a reunião com os dirigentes associativos", o ministro "demonstrou a intenção de dirigir-se aos jornalistas, e não aos presidentes das associações, com quem pouco dialogou, pois os interrompia sempre que se manifestavam."
Os interlocutores de Barbosa afirmam que ele "agiu de forma desrespeitosa, premeditadamente agressiva, grosseira e inadequada para o cargo que ocupa." Assinam a nota os presidentes da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros, Nelson Calandra; da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil, Nino Toldo; e da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho). Os três estavam presentes à reunião, ocorrida na tarde desta segunda-feira (8).
O encontro durou cerca de uma hora. Foi filmado pela TV Justiça e aberto aos repórteres, que puderam gravar o áudio da conversa. Barbosa foi ácido com os visitantes. Criticou-os por terem apoiado no Congresso a criação de quatro novos Tribunais Regionais Federais. A emenda constitucional que deu à luz os TRFs foi aprovada na Câmara na semana passada. Já havia passado pelo Senado. Aguarda apenas a promulgação.
Os dirigentes das associações de magistrados afirmam que, ao discutir com eles sob olhares dos jornalistas, Barbosa "mostrou sua enorme dificuldade em conviver com quem pensa de modo diferente". Acha que "somente suas ideias sejam as corretas." Os signatários da nota enxergaram um quê de ineditismo no episódio. "O modo como [Barbosa] tratou as associações de classe da magistratura não encontra precedente na história do STF."
Anotam ainda no documento que, ao dizer que os congressistas foram induzidos a erro pelas entidades de magistrados, Barbosa ofendeu também o Legislativo. "Dizer que os senadores e deputados teriam sido induzidos a erro por terem aprovado a proposta de emenda constitucional nº 544, de 2002, que tramita há mais de dez anos na Câmara dos Deputados ofende não só a inteligência dos parlamentares, mas também a sua liberdade de decidir, segundo as regras democráticas da Constituição da República."
Acrescentam: "É absolutamente lamentável quando aquele que ocupa o mais alto cargo do Poder Judiciário brasileiro manifeste-se com tal desprezo ao Poder Legislativo, aos advogados e às associações de classe da magistratura, que representam cerca de 20 mil magistrados de todo o país." Avaliam que "os ataques e as palavras desrespeitosas dirigidas às associações de classe, especialmente à Ajufe, não se coadunam com a democracia, pois ultrapassam a liberdade de expressão do pensamento".
Os líderes da corporação dos juízes já não parecem contar com a hipótese de estreitar inimizades com Joaquim Barbosa. Ao contrário. Insinuam que desejam a ele uma presidência breve. "Como tudo na vida, as pessoas passam e as instituições permanecem. A história do STF contempla grandes presidentes e o futuro há de corrigir os erros presentes."
– Serviço: Aqui, a íntegra da nota das entidades de magistrados.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
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