Premido, Feliciano reabre a comissão ao público
Josias de Souza
09/04/2013 15h02
Após três adiamentos, Marco Feliciano (PSC-SP) reuniu-se, finalmente, com o colégio de líderes da Câmara. Ouviu apelos para que renunciasse à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Disse "não". Pressionado, concordou em reabrir as sessões da comissão ao público.
A decisão de realizar reuniões fechadas fora tomada na semana passada. Alegou-se que o tumulto dos manifestantes anti-Feliciano impedia o colegiado de trabalhar. Em entrevista, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, rodou a baiana. Disse que sessão fechada é admita pelo regimento como exceção. Não como regra.
Nesta quarta (10), Feliciano tentará presidir mais uma reunião. Como não renunciou, são grandes as chances de ocorrer novo tumulto. A essa altura, o deputado-pastor está como o chato que se recusa a sair de uma festa chata com receio de que sua ausência melhore o ambiente.
A reunião de Feliciano com os líderes durou algo como duas horas. Foi uma conversa tensa. Os participantes se dividiram. Do lado de Feliciano, ficaram os líderes do PMDB, PR, PSD, PRB e PMN. Contra, PT, PPS, PDT, PCdoB e PSOL. Outros preferiram o silêncio. No muro, seu habitat natural, o PSDB nem deu as caras. Alegou-se que não há no regimento nenhuma saída além da renúncia.
A certa altura, o pastor-deputado serviu-se da ironia. Disse que topava deixar a Comissão de Direitos Humanos. Desde que os petistas José Genoino e João Paulo Cunha também deixassem a Comissão de Constituição e Justiça. O argumento não é ruim. Mas não se aplica ao caso.
No caso de Genoino e João Paulo, já condenados no julgamento do mensalão, o que se espera é que sejam expurgados não de uma comissão, mas da própria Câmara. Terminada a reunião, o líder do PSOL, Ivan Valente (SP), foi aos microfones. Criticava Feliciano quando foi interrompido por Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Abespinhado, Valente foi à jugular: "Você é um torturador, deveria estar preso." E Bolsonaro: "Se você tivesse participado daquele momento estaria no saco, imbecil." Valente voltou à carga, seco: "Torturador." Bolsonaro não se deu por achado: "Se tem alguma prova, denuncie."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.