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José Dirceu: Luiz Fux ‘disse que ia me absolver’

Josias de Souza

10/04/2013 06h25

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Condenado a dez anos e dez meses de cadeia, o ex-chefão da Casa Civil José Dirceu declara que foi "assediado moralmente" pelo ministro Luiz Fux, do STF. Conta que, após "mais de seis meses" de assédio, topou recebê-lo. Deu-se, então, o inusitado. "Ele tomou a iniciativa de dizer que ia me absolver. Textualmente", afirma o hoje "chefe de quadrilha" à espera da execução da sentença.

Dirceu fez as declarações numa entrevista a Mônica Bergamo e Fernando Rodrigues (aqui, a íntegra). A coisa toda ocorreu há dois anos –época em que Fux era ministro do STJ e cabalava apoios para arrancar de Dilma Rousseff a indicação a uma cadeira do STF. No julgamento do mensalão, Fux foi um juiz duro. Acompanhou o relator Joaquim Barbosa em 99,9% dos seus votos. Inclusive na condenação a Dirceu.

O vaivém de Fux é "a única coisa que me tira o sono", diz agora Dirceu. Por quê? "Ele, de livre e espontânea vontade, se comprometeu com terceiros, por ter conhecimento do processo, por ter convicção, certo? Essa é que era a questão, que ele tinha convicção e conhecimento do processo. É um comportamento quase que inacreditável."

A reporter Mônica Bergamo já havia revelado em dezembro de 2012 que Fux estivera com Dirceu. Ouvido na ocasião, o magistrado confirmara o encontro. Mas negara que houvesse prometido absolvição ao interlocutor. Chegara mesmo a dizer que esquecera que o "assediado" era réu. Depois de ler o processo, ficara "estarrecido".

Também em dezembro, falando ao repórter Kennedy Alencar, o ministro Gilberto, chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, revelou que Fux o havia procurado antes de ser indicado por Dilma para o STF. Contou que, durante a conversa, ele deixara claro que absolveria os réus do mensalão.

"Sem que eu perguntasse nada, ele falou pra mim o que falou pra todos os outros: que ele tinha estudado o processo, que o processo não continha prova nenhuma, que era um processo absolutamente sem fundamento e que ele tomaria uma posição muito clara." Fux não se deu ao trabalho de desmentir Carvalho.

Ao tomar posse na presidência do STF, Joaquim Barbosa criticou em seu discurso os critérios de ascensão funcional dos juízes. "Nada justifica, a meu sentir, a pouco edificante busca de apoio para uma singela promoção de juiz de primeiro ou segundo grau", lecionou.

Para Barbosa, "o juiz, bem como os membros de outras carreiras importantes do Estado, deve saber de antemão quais são suas reais perspectivas de progressão. E não buscar obtê-las por meio da aproximação ao poder político dominante no momento." Sem querer, o presidente do Supremo presenteou o colega Fux com uma carapuça.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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