Royalties para a educação: Dilma pisou no freio
Josias de Souza
02/05/2013 20h01
São grandes as diferenças entre esses dois instrumentos legislativos. Para começo de conversa: A MP entra em vigor imediatamente, a partir de sua publicação no 'Diário Oficial'. É usada sempre que o Planalto deseja apressar a materialização de um plano. O PL só surte os efeitos desejados depois de aprovado na Câmara e no Senado.
Reza a Constituição que o governo pode lançar mão da MP em casos de "relevância" e "urgência". Por isso, o texto constitucional concede à MP um tratamento prioritário. Passa à frente de todos os itens incluídos na pauta de votações da Câmara e do Senado. Além de "trancar" a tramitação de outras proposições, a MP tem que ser votada em dois meses, prorrogáveis por igual período. Do contrário, perde a validade.
O PL não tem prazo de análise pré-estabelecido. A maioria mofa nos escaninhos do Legislativo. e não chega ao plenário. Para apressar a análise de um PL, é preciso que haja um requerimento de urgência. O pedido pode ser feito pelo Planalto ou pelos líderes partidários, com a anuência do plenário.
Dilma já havia remetido à Câmara uma MP destinando 100% dos royalties à educação. A medida perde a validade em 12 de maio. Os deputados decidiram não votá-la depois que a partilha dos royalties entre Estados produtores e não-produtores de petróleo virou uma querela judicial. Avaliou-se que não faz sentido decidir sobre a aplicação das verbas antes que o STF defina como será repartido o bolo.
Até aqui, a pregação de Dilma sobre os royalties estava lambuzada de marketing. Numa perspectiva otimista, o petróleo do pré-sal só jorrará em escala comercial entre 2018 e 2020. Mas ainda se podia argumentar que a pressa da presidente servia para definir as regras e conter as pul$ões de governadores e prefeitos, que já tramavam gastar por conta. De repente, Dilma perdeu o nexo.
No pronunciamento transmitido em cadeia de rádio e tevê, na noite de quarta (1º), a presidente como que lavou as mão. "É importante que o Congresso Nacional aprove nossa proposta de destinar os recursos do petróleo para a educação." Na boca de alguém que dispõe do apoio de um condomínio partidário majoritário nas duas Casas legislativas, a frase soou demasiado protocolar. Na sequência, Dilma praticamente enxaguou aos mãos ao dirigir um apelo à audiência: "Peço a vocês que incentivem o seu deputado e o seu senador para que eles apoiem essa iniciativa." Ora, se as verbas e os cargos do Planalto não servem de "incentivo", que peso terá uma dúzia de e-mails de eleitores?
Ao trocar a MP pelo PL, Dilma sinalizou que a "relevância" e "urgência" que atribuía ao tema foi no mínimo atenuada. Ainda pode formalizar um pedido de urgência para o seu PL. Também pode mobilizar sua infantaria parlamentar. Do contrário, ficará entendido que o reforço do caixa da educação é uma prioridade de gogó.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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