Caixa liberou os benefícios na véspera do boato
Josias de Souza
25/05/2013 05h56
Isso sim é que é organização eficiente! Um dia antes da propagação dos boatos que empurraram a clientela do Bolsa Família para suas agências em pleno final de semana, a Caixa Econômica Federal havia liberado, de uma tacada, todos os benefícios das 13,8 milhões de famílias inscritas no programa. Coisa de R$ 2 bilhões.
Repetindo: numa sexta-feira, a Caixa antecipou o calendário das liberações do mês de maio. E despejou dinheiro no sistema. Fez isso sem avisar nada a ninguém. Na manhã seguinte, sábado, sobrevieram os boatos. O Bolsa Família vai acabar… Dilma mandou pagar um benefício extra pelo dia das mães… No domingo, adensou-se o sururu nas agências da Caixa em 13 Estados.
Na segunda-feira, uma ministra petista apontou o dedo para a oposição. A presidente da República chamou o boateiro de "desumano" e "criminoso". E a Caixa jactou-se de ter antecipado R$ 152,3 milhões a 900 mil pessoas. Modesta, a casa bancária estatal absteve-se de dizer que liberara o numerário na véspera da boataria.
A Caixa só admitiu que havia executado os passos do seu balé premonitório depois que os repórteres Aguirre Talento e Daniel Carvalho localizaram uma cliente do Bolsa Família que sacara sua mensalidade 12 dias antes da data regulamentar. Chama-se Diana dos Santos. Mora na cidade cearense de Caucaia
"Recebo Bolsa Família há anos e nunca pagaram antecipado", estranhou Diana. "Aí achei estranho, mas fiquei feliz e peguei o dinheiro. Acho que outras pessoas também conseguiram receber antecipado, foram avisando aos conhecidos e virou essa confusão", disse.
A Polícia Federal acaba de ganhar uma linha de investigação nova. Torça-se para que a PF seja menos eficiente do que a Caixa. Do contrário, corre o risco de sair absolvendo antes mesmo de investigar. Acaba virando uma Maria do Rosário às avessas. Por ora, há na praça apenas uma certeza: de tédio a plateia não morre!
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.