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Cúpula do PMDB recebe mal a tática de Dilma

Josias de Souza

25/06/2013 05h56

Na noite passada, enquanto Dilma Rousseff degustava no Alvorada a sensação do dever cumprido, respirava-se no palácio vizinho, o Jaburu, uma atmosfera de pessimismo. Terminado o encontro da presidente com governadores e prefeitos, Michel Temer reuniu em sua residência oficial a cúpula do PMDB. A conversa foi esticada até o início da madrugada desta terça. Concluiu-se que as providências adotadas por Dilma não devem estancar a crise.

Ouviram-se críticas azedas à presidente. Avaliou-se que, além de não silenciar as ruas, Dilma colocou a responsabilidade pelo barulho no colo dos outros, inclusive dos congressistas. Um dos presentes diria mais tarde que não se surpreenderá se aliados do governo assinarem o requerimento de abertura de uma CPI da Copa, já sugerida pela oposição.

Outro convidado do vice-presidennte recordou que a combinação de ruas cheias com economia desarranjada é prenúncio de desastre. Nesse contexto, a proposta de realização de plebiscito para convocar uma Constituinte foi vista como gasolina na fogueira.

Afora o constrangimento de Temer, autor de artigo no qual tachou a ideia de "inaceitável", recordou-se que uma Constituinte injetaria instabilidade num cenário que já não é estável. Prevalecendo a ideia, até o estatuto da reeleição estaria sob risco, disse uma dos visitantes do Jaburu. Ou seja, Dilma não se deu conta de que pode virar vítima de si mesma.

Havia gente graúda no Jaburu. Por exemplo: Renan Calheiros e Henrique Alves, presidentes do Senado e da Câmara; José Sarney, ex-inquilino do Planalto; Eunício Oliveira e Eduardo Cunha, líderes do partido no Senado e na Câmara; Roseana Sarney, filha de raposa e governadora do Maranhão; Moreira Franco, ministro da Aviação Civil…

Os Sarney estavam entre os mais desassossegados. A filha, ácida. O pai, pessimista, achando que a crise pode fugir ao controle. Numa tentativa de evitar que o mal-estar vire manchete, decidiu-se na conversa noturna do Jaburu adiar por pelo menos uma semana a reunião da Executiva do PMDB, marcada para o final da tarde desta terça.

Considerou-se que, antes de tomar grandes decisões, o melhor a fazer é ganhar tempo para digerir os efeitos dos remédios de Dilma contra a febre das ruas. Ausente da reunião do Jaburu, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, hoje vice-presidente da Caixa, discordou.

Geddel acha que agora mesmo é que o PMDB tem a obrigação de se posicionar, entregando à turma do meio-fio ao menos parte do que ela exige. A rejeição da PEC 37, por exemplo.

Quanto à ideia de Dilma de fazer a reforma política pela via da Constituinte, Geddel recorre à ironia. Afirma que, nessa matéria, está fechado com Temer. Apoia o que está escrito num artigo de 2007. Nesse texto,  Temer tachou de "inaceitável" a proposta agora encampada por Dilma.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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