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PT trava consigo mesmo uma guerra de notas

Josias de Souza

19/07/2013 22h09

O deputado José Guimarães (CE), líder do PT na Câmara, divulgou uma nota na tarde desta sexta-feira (19) para informar que o petista Cândido Vaccarezza (SP) não representa o partido no grupo de trabalho constituído para elaborar um projeto de reforma política. Anotou que as opiniões de Vaccarezza, coordenador do grupo, "não expressam o pensamento nem da bancada na Câmara nem do PT."

Vaccarezza dissera o óbvio: qualquer alteração que venha a ser feita na legislação político-eleitoral só valerá para as eleições de 2016 e 2018. Por quê? Não há tempo para aprovar nada até 5 de outubro, um ano antes da disputa de 2014, como exige a Constituição. Com esse esclarecimento, Vaccarezza potencializou outra obviedade: é inviável a proposta de plebiscito feita por Dilma Rousseff.

Deve-se a nota de Guimarães a uma tentativa de aplacar a irritação de Dilma. Ela havia sinalizado que não queria Vaccarezza à frente do grupo que cuidará da reforma política na Câmara. A escolha, porém, cabia ao presidente da Câmara. Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

"Faremos uma mobilização vigorosa visando arregimentar as 171 assinaturas necessárias para a apresentação do projeto de decreto legislativo ao plenário da Câmara, para viabilizar o plebiscito", anotou Guimarães na nota concebida para aplacar o mau humor de Dilma. "Essa iniciativa terá encaminhamento prioritário."

Na véspera, 27 dos 80 deputados do PT já haviam divulgado uma nota repudiando a escolha de Vaccarezza como coordenador do grupo da reforma política. O texto realçou que o PT indicara outro nome: Henrique Fontana (RS). E lamentou a opção de Henrique Alves. "Mais do que uma escolha pessoal, esse gesto é um claro movimento para impor à bancada do PT preferências políticas que não são as suas", escreveram os deputados.

Neste sábado (19), Vaccarezza respondeu ao grupo. Fez isso por meio de outra nota. "Convido os que tentam transformar o debate em torno da reforma política em arena de disputa política a mobilizar energia para viabilizar a realização do plebiscito, que dizem defender", escreveu Vaccarezza. "Ao se concentrarem em ataques pessoais, ajudam a aprofundar a descrença da sociedade em seus representantes e nos partidos políticos." Quando redigiu a sua nota, Vaccarezza não suspeitava que o líder Guimarães entraria na briga do outro lado.

Ao tomar distância do companheiro Vaccarezza, o PT se distancia da maioria da Câmara. Antes de instalar o grupo de trabalho, Henrique Alves reunira os líderes de todos os partidos. Excetuando-se o PT e o PCdoB, todos concordaram com o sepultamento do plebiscito sugerido por Dilma. A maioria prefere o referendo. Isso, naturalmente, se os partidos conseguirem colocar em pé uma proposta de reforma. Materializando-se o milagre, o PT, de mãos dadas com Dilma, estará do outro lado. O lado dos derrotados.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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