TV Senado baniu senadores do ‘horário nobre’
Josias de Souza
13/08/2013 07h32
Ao saber que seus discursos serão substituídos por uma programação noticiosa, alguns senadores revoltaram-se. "A TV Senado não é uma televisão de variedades. Ela não procura audiência; ela procura transparência", disse em discurso o senador Roberto Requião (PMDB-PR). Ecoaram-no sete colegas. Entre eles Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que tachou a novidade de "retrocesso", e Pedro Taques, que se referiu à troca de horário como "um absurdo".
O festival de reprises de discursos proferidos no Legislativo é um desses programas televisivos que, quando o sujeito sintoniza, não consegue mais desligar. Dorme imediatamente. Na maior parte das vezes, a TV Senado oferece terror visual sem direito a comerciais. Mas há dias em que o plenário produz um ou outro espetáculo que, por divertido, vale a pena ver de novo. Foi o que sucedeu na sessão vespertina desta segunda-feira (12).
Uma característica curiosa da corrupção se observa no Congresso. O corrupto está sempre na outra tribuna. Vice-líder do PSDB, Alvaro Dias (PR) foi ao microfone para comunicar que protocolara, junto com o líder tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP), um requerimento pedindo a convocação de João Augusto Henriques. Ex-diretor do BR Distribuidora, João frequentou o noticiário do final de semana associado a uma denúncia sobre propinas cobradas na Petrobras em favor de políticos do PMDB e do caixa de campanha de Dilma Rousseff em 2010.
Alvaro fustigou: "Se estas denúncias forem confirmadas, o mensalão está mais presente do que nunca na administração federal, como consequência deste sistema promíscuo instalado em Brasília há 12 anos. Um esquema com o objetivo de cooptar forças políticas, especialmente partidos, para consolidar uma ampla base de apoio ao governo do PT."
Vice-líder do PT, o senador Humberto Costa (PE) não se conteve. Achegando-se ao microfone, pediu um aparte ao tucano e despejou sobre sobre o tapete azul do Senado o propinoduto dos trens e do metrô de São Paulo, Estado governado por tucanos há quase duas décadas. Irônico, Humberto sugeriu a Alvaro que convocasse também o ex-presidente da Siemens Brasil, Adilson Primo. Ele "sabe muitas coisas sobre escândalo que supostamente envolveria empresas multinacionais e agentes públicos do governo de São Paulo", disse.
O festival de lama tucano-petista foi bem mais interessante do que a cena em que Bruno contou para Paloma ter achado a Paulinha na caçamba de lixo. A novela da vida real não merece ser confinada pela TV Senado nas madrugadas. Se a plateia tiver sorte, tucanos e petistas levarão suas desavenças às últimas inconsequências.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.