Aécio defende prévias e provoca Serra: ‘basta que haja mais de um candidato’ à Presidência
Josias de Souza
20/08/2013 21h26
Aécio Neves falou aos jornalistas no Senado. Pelo teor das declarações, teve um propósito: retirar do enredo de José Serra o papel de vítima. Disse que não mudou de opinião em relação às prévias. "Em 2009, propus ao partido as prévias. Continuo achando que são um instrumento importante."
Em 2009, Aécio desejava representar o PSDB na disputa presidencial de 2010. Mais bem posto no partido, Serra bloqueou as prévias. E prevaleceu. Hoje, o PSDB prefere ir de Aécio em 2014. Serra se enrola na bandeira das prévias e ameaça deixar a legenda. Em resposta, Aécio grita "truco".
Para que as prévias ocorram, afirmou Aécio, "basta que, após o prazo de filiação, após outubro, haja no partido mais de um postulante e essa postulação seja submetida à Executiva do partido, como prevê o estatuto." Quer dizer: se deseja mesmo disputar, Serra precisa: 1) permanecer no partido; 2) sair da toca.
Com uma ponta de ironia, Aécio festejou o sumiço daquele Serra de 2009: "Até saúdo, cumprimento aqueles que evoluíram de posição. Prévia é uma previsão estatutária, continua sendo prevista." Agora acomodado no posto de presidente do PSDB, o rival de Serra antecipa: "Se for proposta à Executiva [a realização de prévias], posso adiantar que meu voto será favorável."
Há três semanas, Aécio reuniu os presidentes de todos os diretórios estaduais do PSDB. O vocábulo "prévias" não foi mencionado no encontro. Majoritariamente fechada com a não-declarada candidatura presidencial de Aécio, a legenda concentra-se na preparação para 2014.
Como quem não quer nada, Aécio insinuou que, excetuando-se Serra, não há tucano que esteja falando em prévias. "Esse não é um assunto que tem demandado discussões internas. Tivemos uma grande reunião, esse assunto não foi suscitado, mas é legítimo que quem esteja no partido possa pleitear."
Instado a comentar a hipótese de Serra trocar de partido, Aécio rendeu-lhe homenagens: "Tenho enorme respeito pelo companheiro Serra. Reitero isso sempre que posso. Ele é parte da história do PSDB. Todos nós gostaríamos que ele ficasse no partido, na mesma trincheira que nós estamos." Porém, "a questão da mudança de partido é sempre uma decisão muito pessoal, que, obviamente, o PSDB saberá respeitar."
Num instante em que Serra ergue suas barricadas, Aécio carrega na ironia: "Eu, pessoalmente, e acho que todos os companheiros gostariam de tê-lo, com a qualidade que tem, com o espírito público que tem demonstrado, dentro do partido, nos ajudando no enfrentamento daquele que é o nosso real adversário: o desgoverno, o autoritarismo, o intervencionismo, o aparelhamento da máquina pública, a incompetência. Tudo isso representado pelo governo do PT."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.