Marina condiciona acerto com PSB a programa
Josias de Souza
08/10/2013 23h09
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Marina Silva refere-se ao acordo que celebrou com Eduardo Campos há três dias como uma espécie de noivado político. Condiciona o casamento à efetivação de "compromissos e avanços programáticos." No programa idealizado por Marina "o avanço na política é fundamental". Para ela, não se pode "ficar preso à logica pragmática de que o que vale é ganhar por ganhar." Marina parece antever um processo com a duração de ópera. "Tem primeiro ato, segundo ato, terceiro ato…"
"Isso não é uma coisa unilateral", disse Marina em entrevista ao blog, nesta terça (8). "Com certeza o Eduardo Campos e o PSB têm os seus limites. A Rede tem os seus limites. E ambos vão fazer a mediação entre possibilidades e limites, para ver se é possível prosperarmos."
No ato em que a parceria Rede-PSB foi formalizada, no sábado (5), Marina se absteve de confirmar se será vice na chapa de Eduardo Campos. Na entrevista, soou como se julgasse natural uma eventual troca de lugar na chapa: O repórter indagou: Daqui a três meses, se Marina estiver na frente de Eduardo nas pesquisas, pode haver uma inversão de posições na chapa? E ela: "Eu e o Eduardo não estamos preocupados com isso. Nós estamos preocupados em aprofundar o programa."
A julgar pelas posições esgrimidas por Marina ao longo da entrevista, a singularidade programática da Rede exigirá fortes ajustes na rotina pragmática do PSB. Por exemplo: o presidenciável Eduardo Campos esteve há menos de dez dias com Gilberto Kassab, presidente do PSD. Falaram sobre 2014. Ele também negocia há meses com o PDT de Carlos Lupi.
O repórter perguntou a Marina se enxerga nesses partidos os requisitos para integrar a coligação Rede-PSB. E ela: "Com certeza, no partido de Kassab não. O PDT… não vejo como falar de nova política com o que foi feito com o PDT no plano nacional. As denúncias de corrupção estão aí sendo investigadas."
Marina faz uma distinção entre o PDT federal e diretórios estaduais da legenda. Exemplificou: "Aqui no Distrito Federal, temos a figura do Cristovam [Buarque], que não pode ser confundida com isso que aconteceu por aí. Temos a figura do Reguffe…" O repórter lembrou que eventuais acordos regionais não agregam tempo de propaganda televisiva às coligações nacionais. Marina concordou. Mas não soou preocupada. Ao contrário.
"Não se pode fazer coligações com base apenas em quem tem tempo de televisão, em quem tem estrutura", disse Marina noutro ponto da conversa. "Essas eleições não podem ser as eleições do marketing, as eleições das estruturas e dos minutos de televisão. Tem que ser as eleições de uma nova postura. Uma postura que diz basta! Não dá mais para governar refém de uma lógica política que não tem limites."
Marina recolheu no Planalto um argumento para reforçar a sua tese: "O meu gesto, e do Eduardo, para começar a discutir isso, já está criando problemas para a presidente Dilma, porque as pessoas já estão chantageando e pressionando por mais cargos. […] Partem para cima do governo, para tentar extrair a última gota de sangue que ainda dá para extrair nessa lógica do toma-lá-dá-cá."
A presidente da Rede Sustentabilidade, legenda em fase de regularização, deixou bem claro também que não se relacionará com qualquer político. "Eu jamais me disporia a um processo [de negociação] com inimigos históricos dos índios, com inimigos históricos, por convicção, da sustentabilidade."
Perguntou-se a Marina se ela não se sente desconfortável numa legenda que acaba de filiar dois egressos do DEM –Paulo Bornhausen e Heráclito Fortes— e esboça uma coligação com Ronaldo Caiado (DEM-GO). "Não sou uma filiada orgânica do PSB. As aproximações que o PSB tenha com pessoas que não têm nada a ver com a cultura socialista, essa depuração quem tem que fazer é o próprio PSB", disse Marina.
Só o PSB, prosseguiu a ex-senadora, poderá definir se o convívio com a Rede possibilitará à legenda "fazer o seu próprio realinhamento histórico". Na opinião de Marina "a oportunidade está dada". Ela realça que "os dois partidos têm a sua autonomia." E repisa: "Estamos iniciando uma discussão. Se essa discussão resultará em algo que nos faça prosseguir de forma concreta, só o processo e os resultados desse processo é que dirão."
Acha que Dilma Rousseff é favorita? "Sem sombra de dúvidas, hoje ela é a favorita", admitiu Marina. "Tanto é que o marqueteiro dela disse que ela está no olimpo pronta para massacrar os anões", ironizou. "E eu já estou aqui, tentando pelo menos ter uma funda, que é a Rede. O Eduardo Campos que me traga as cinco pedrinhas, porque é uma briga de Davi contra Golias."
Numa lição de humildade ao marqueteiro João Santana, Marina revelou-se confortável sob o estereótipo de anão. "Quando a gente olha de baixo pra cima, a gente vê o que está acima de nós. E o que está acima de nós é o Brasil. Esta é a posição dos anões, pelo menos a minha. Olhar de baixo pra cima pra ver o que está acima de mim. E o que está acima de mim é o Brasil."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.