Juiz de execuções trata STF como corte inócua
Josias de Souza
15/11/2013 06h59
Chama-se Ademar Silva de Vasconcelos o juiz escalado para executar as ordens de prisão que o STF vai expedir contra os condenados do mensalão. Ele é o titular da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Tomado pelas palavras, o doutor detestou a decisão do Supremo de enviar mensaleiros para o xadrez.
Vale a pena escutá-lo: "Eu acho que isso não é bom. A gente, como cidadão, fica até mesmo muito decepcionado com essas coisas. Fico pensando no homem comum, do povo, que não tem muita oportunidade vendo um homem notório sendo preso. Isso não é bom para o país. São penas inócuas, porque eles já foram punidos publicamente."
A repórter Mariana Haubert perguntou ao magistrado se não acha que a prisão de políticos graúdos, por emblemática, exerce efeitos benfazejos na alta do cidadão comum. E ele: "Isso é mais por vingança".
O homem comum ouve o doutor dizer essas coisas e conclui que o brasileiro em dia com o fisco é mesmo um sujeito de má sorte. Já se habituara ao paradoxo de ser chamado de contribuinte pelo governo que o assalta. Mas ainda não se acostumou com o papel de bobo.
O contribuinte pergunta aos seus botões, que não respondem, pois não falam com qualquer um: qual é o custo de sete anos de funcionamento do STF? Não deve sair barato, ele matuta consigo mesmo.
Além dos salários dos 11 atores principais, a Viúva paga o pessoal de apoio, o palco, a iluminação, o serviço de som, o cafezinho, a TV para transmitir o espetáculo, e o massagista para aliviar as dores na coluna do Joaquim Barbosa.
O brasileiro, por comum, quer ajudar o doutor Ademar. Dispõem-se a convocar pelas redes sociais uma passeata em favor da revogação das punições dos mensaleiros, já tão "punidos publicamente." Mas não abre mão do seu direito à vingança. Se a lei não vale nada, feche-se o STF e demita-se o doutor Ademar. O figurino de executor de "penas inócuas" não lhe cai bem.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.