Com Lula, PT e PMDB se reúnem em Brasília para administrar crises estaduais
Josias de Souza
29/11/2013 20h39
As cúpulas do PT e do PMDB se reúnem em Brasília neste sábado para discutir as crises que separam as duas legendas em vários Estados. Recostarão os cotovelos sobre a mesa quatro representantes de cada legenda. Pelo PT: Lula, Dilma Rousseff, Rui Falcão e Aloizio Mercadante. Pelo PMDB: Michel Temer, Henrique Eduardo Alves, Renan Calheiros e Valdir Raupp.
Embora a coreografia interesse apenas ao comitê reeleitoral de Dilma, o palco será financiado pelo contribuinte. Marcado para as 10h, o encontro ocorrerá na Granja do Torto, residência de campo da Presidência da República. Há litígios em pelo menos 11 Estados: Rio, Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Ceará, Paraíba, Maranhão, Pernambuco e Bahia.
Em Estados como Pernambuco e Bahia, não há o que fazer. São praças em que o PMDB do baiano Geddel Vieira Lima e do pernambucano Jarbas Vasconcelos tem ojeriza do PT. Há casos como o do Rio, em que o PT de Lindbergh Farias disputa o governo contra o PMDB de Luiz Fernando Pezão, o nome de Sérgio Cabral. Com boa vontade, fixam-se regras de convivência. Com nariz torcido, nem isso.
Há também, supremo dissenso, Estados em que o PT e o PMDB cogitam ir às urnas de 2014 coligados com o PSDB, não um com o outro. Candidato do PT ao governo do Mato Grosso do Sul, Delcídio Amaral negocia com o tucanato a vaga de vice ou a de senador. No Paraná, a ala majoritária do PMDB move-se para escantear Roberto Requião e emplacar Osmar Serraglio como vice do governador tucano Beto Richa, candidato à reeleição.
Há ainda peculiaridades como a do Maranhão e a do Ceará. Num Estado, um pedaço do PT resiste em manter a rendição ao grupo de José Sarney e flerta com Flávio Dino, do PCdoB. Noutro, após migrar do PSB de Eduardo Campos para o neogovernista Pros, os irmãos Cid e Ciro Gomes reivindicam a adesão do PT ao seu projeto estadual. Candidato do PMDB à sucessão de Cid, Eunício Oliveira faz cara feia e passa a ambicionar o tempo de TV do PSDB.
Até mesmo onde se imaginava que os dois partidos caminhariam juntos, o entendimento ainda é precário. Em Minas Gerais, estava entendido que o PMDB apoiaria o candidato a governador do PT, Fernando Pimentel. Mas ainda há discordâncias quanto à contrapartida.
O petismo mineiro oferece ao PMDB a vaga de senador na chapa de Pimentel. O diabo é que estará em jogo apenas uma cadeira por Estado no Senado. E dá-se de barato que, em Minas, será difícil retirar o assento do atual governador Antonio Anastasia (PSDB).
O que atraiu Lula para a reunião deste sábado foi o risco de o varejão paroquial comprometer a renovação da chapa nacional encabeçada por Dilma e secundada por Temer. O cheiro de queimado aumentou porque a crise tornou-se mais aguda em praças que enviarão o maior número de delegados à convenção nacional do PMDB. É nessa convenção, marcada para junho de 2014, que o PMDB dirá se quer ou não revalidar a parceria com Dilma.
O cheiro de queimado aumentou porque cresceu no PMDB o movimento pela convocação de uma pré-convenção em março de 2014. Para quê? Para dar tempo ao partido de articular um projeto presidencial alternativo caso Dilma se torne uma opção minoritária na legenda. Antes de seguir para a Granja do Torto, o time do PMDB fará um aquecimento no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice Michel Temer.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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