Governo reage à ameaça de greve de aeronautas: ‘podemos abrir o setor’
Josias de Souza
19/12/2013 05h04
O Sindicado Nacional dos Aeronautas convocou para hoje nova rodada de assembleias para decidir se pilotos, copilotos e comissários de voo cruzarão os braços a partir desta sexta-feira. Acionado por Dilma Rousseff, o ministro Moreira Franco (Aviação Civil) monitora a encrenca.
Em conversa com o blog na noite passada Moreira Franco revelou o que dirá às partes: em defesa dos interesses dos passageiros, o governo não descarta a hipótese de submeter as companhias brasileiras à concorrência com empresas estrangeiras. "Podemos abrir esse setor", disse o ministro.
Pelas contas de Moreira Franco, programaram-se para voar nesta sexta, dia em que os aeronautas ameaçam entrar em greve, algo como 350 mil passageiros. Trata-se de um recorde. Permite antever a convulsão que sacudirá os aeroportos caso se confirme a paralisação.
Moreira Franco disse esperar que prevaleça o "bom senso". Preocupou-se em afirmar que a cogitação de abertura do mercado não é uma ameaça, mas uma reflexão inevitável ante a dificuldade dos atuais atores de prover aos passageiros serviços de boa qualidade, compatíveis com os preços.
Há duas formas de "abrir" o setor aéreo. Pode-se elevar o percentual de participação do capital estrangeiro nas companhias brasileiras. Hoje, o Código Brasileiro de Aeronáutica só autoriza 20%. Outra providência, mais radical, seria autorizar as empresas estrangeiras a operar no Brasil com suas próprias logomarcas. É desse tipo de abertura que o ministro está falando.
Moreira Franco conversou com Dilma nesta quarta-feira. Sua agenda incluiu também um encontro com representantes do sindicato dos aeronautas. Pelo telefone, falou com o patronato aéreo. Rogou aos dois lados que demonstrem equilíbrio para chegar a um entendimento. Discute-se uma pauta que inclui reajustes salariais, benefícios sociais e condições de trabalho.
Embora esteja otimista, o ministro programou-se para refazer os contatos nesta quinta. Seu dia será complicado. Terá de viajar ao Rio para checar se foi bem executado um plano de reformulação do serviço de táxi do aeroporto Santos Dumont. "Aquilo estava um caos", disse Moreira Franco. "Modificamos junto com a prefeitura do Rio. Vou ver se está funcionando."
Considerando-se a precariedade dos serviços prestados aos brasileiros que frequentam os aeroportos, a preocupação de um ministro de Estado com os táxis é algo alvissareiro. Resta torcer para que a greve seja evitada. Sem táxi, dá-se um jeito. Sem avião, os passageiros se tornarão veículos de uma ira irrefreável.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.