Para Aécio e Campos, Dilma compromete setor elétrico por razões eleitorais
Josias de Souza
21/02/2014 22h02
A portas fechadas, os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) fizeram nesta sexta-feira (21) uma análise ácida sobre a forma como Dilma Rousseff gere o sistema elétrico brasileiro. Na opinião de ambos, o governo já deveria ter levado ao ar uma campanha de esclarecimento sobre o consumo responsável de energia. Avaliam que Dilma ainda não tomou a providência por razões eleitorais.
Para Aécio e Campos, Dilma tornou-se uma espécie de prisioneira do desconto que concedeu na conta de luz no ano passado. Acham que, num esforço para não anular o efeito eleitoral da medida, a presidente se esquiva de reconhecer os problemas do setor elétrico. Com isso, deixa de tomar providências que, além de atenuar os riscos de interrupção no fornecimento de energia, reduziriam os custos do uso da energia térmica, mais cara e poluente.
São muito coincidentes as opiniões de Aécio e de Campos sobre a encrenca energética. Nem só de falta de chuva é feito o drama do setor, eles avaliam. O problema foi potencializado pela forma como Dilma decretou o desconto médio de 20% nas contas de luz. Para os dois antagonistas, Dilma errou ao conceder um desconto linear. Deveria ter adotado uma sistemática que premiasse o consumo responsável. Nessa fórmula, os descontos aumentariam na proporção direta da redução no consumo de energia. Quem poupasse mais pagaria menos. E vice-versa.
Na última terça-feira (18), conforme noticiado aqui, Dilma acusara a oposição e a mídia de "torcer" pelo racionamento de energia elétrica. Algo que, segundo ela, não correrá "mesmo que não caia nenhuma gota de chuva até o final do ano". A presidente insinuou que a pregação oposicionista visa socorrer politicamente o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, às voltas com a escassez de água. Aécio respondeu: "Nenhum Estado merece essa torcida contra."
Os dois rivais de Dilma se encontraram em Recife. O pretexto foi familiar. Acompanhado da mulher Letícia Weber, Aécio foi ver Miguel, que nasceu no mês passado. Os visitantes tiraram fotos ao lado do bebê e dos pais, Campos e Renata. A presença de outros políticos deixava antever que a visita não seria uma mera celebração da maternidade.
Junto com os dois casais, foram à mesa do almoço o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) e o ex-ministro Fernando Bezerra (PSB-PE). Quando foi servido o cafezinho, a conversa já givara 100% em torno de 2014. Analisaram-se as perspectivas de aliança entre PSDB e PSB nos Estados. Verificou-se que há mais confluências do que divergências.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.