Lula agora quer levar a Cuba o ‘Mais Embrapa’
Josias de Souza
28/02/2014 03h56
Na Presidência, Lula assegurou a Cuba os financiamentos do BNDES que bancaram a maior obra de infraestrutura da ilha comandada pelos irmãos Raúl e Fidel Castro, o Porto de Mariel. Coisa de US$ 682 milhões em três anos. No usufruto da condição de ex-presidente, ele deseja catapultar a produtividade da agricultura cubana.
Em viagem encerrada nesta quinta-feira (27), Lula fez uma visita sentimental às instalações de Mariel, inauguradas pela pupila Dilma Rousseff há um mês. Depois, acompanhado do senador Blairo Maggi (PR-MT), um dos maiores produtores de soja do mundo, foi à cidade de Ciégo de Ávila. Ali, inspecionou a fazenda da Cubasoy, uma estatal agrícola militar. Assumiu novos "compromissos" com a ditadura companheira.
"Começa agora um novo tipo de cooperação", disse. Envolve duas iniciativas. Numa, Lula comprometeu-se em satisfazer o "desejo dos companheiros de Cuba de que a Embrapa mande técnicos seus para ficar aqui mais tempo." Não especificou os prazos, a quantidade da mão de obra nem os custos. "Eu acho que o governo brasileiro vai permitir", limitou-se a dizer, como que se autoinvestindo na condição de presidente paralelo do país.
Noutra iniciativa, Lula assumiu o papel de intermediário do acesso dos cubanos às modernas lavouras de Maggi no Mato Grosso. "O nosso companheiro Blairo Maggi, já avisou aos ministros da Agricultura e da Defesa que ele está disposto a receber quantos companheiros cubanos quiserem ir ao Brasil para acompanhar o ciclo —do plantio até a colheita— da soja, para ver o que pode ser feito para aumentar a produtividade da soja e do milho" plantados em Cuba.
A estatal militar Cubasoy foi fundada em 2006, numa tentativa do regime de Havana de diversificar sua produção agrícola, concentrada na cana de açúcar. Em 2008, quando ainda era presidente, Lula mandou o então chanceler Celso Amorim a Havana para celebrar um termo de cooperação num projeto de plantio de 40 mil hectares de soja. A estatal brasileira de pesquisa agropecuária entraria com a assistência técnica.
No ano passado, em conversa com o ditador Raúl Castro, Lula fora informado de que a produtividade da lavoura socialista de Cuba continuava baixa. "No Brasil, você colhe de 3,5 a 4 toneladas por hectare", diz. Em Cuba, apenas "1,2 tonelada por hectare." Convidou Maggi a acompanhá-lo porque prometera a Raúl que levaria a Cuba "um grande empresário" brasileiro.
Na avaliação de Lula, com mais Embrapa e com o auxílio do agronegócio do Brasil, a produção cubana dará um salto. "O melhor jeito de ajudar é levar conhecimento, fazer com que as pessoas tenham acesso a tecnologias modernas." Beleza. Na parte privada, Maggi saberá o que fazer para ajustar a ajuda às conveniências da caixa registradora. Resta informar que vantagens o contribuinte brasileiro leva com o envolvimento da Embrapa no negócio.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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