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Na Câmara, Dilma tornou-se uma anã política

Josias de Souza

11/03/2014 22h28

Dilma Rousseff passou as últimas 72 horas afirmando, em privado, que queria saber qual é o tamanho real de Eduardo Cunha, o líder desaforado do PMDB. Em movimento suprapartidário, os deputados governistas se juntaram para fornecer à presidente uma informação mais valiosa. Hoje, 11 de março de 2014, medida pelo painel eletrônico da Câmara, Dilma tem a estatura de uma anã política: 28 votos —ou 5,4% do colegiado de 513. A presidente é menor até do que o partido dela. Dono de 87 cadeiras na Casa, o PT não desceu inteiro ao front.

Com boa vontade, pode-se adicionar ao cesto de Dilma as 15 abstenções e os 89 deputados que se declararam "em obstrução". Ainda assim, a presidente da supermaioria de cerca de 400 aliados saiu da votação reduzida a uma minoria de 132 votos. Assim, com o conglomerado partidário lipoaspirado para 25,7% da Câmara, Dilma descobriu que Eduardo Cunha e o PMDB não são seus únicos problemas. Longe disso.

Como previsto, foi a voto a proposta da oposição de criação de uma comissão suprapartidária para investigar, em diligências externas, denúncia de pagamento de propinas na Petrobras. Como fizera antes do Carnaval, o PT tentou obstruir. Dessa vez, fracassou. E a coisa passou em votação simbólica. Inadvertido, o PT exigiu a aferição eletrônica dos votos. Com esse gesto, empurrou para dentro da derrota a humilhação de um placar acachapante: 267 a 28, noves fora abstenções e obstruções.

Dilma aprendeu uma lição na Câmara. Ainda não percebeu que lição foi essa. Mas, se esquecer por um instante a assessoria especializada de Aloizio Mercadante e convocar ao Planalto uma criança de 5 anos, perceberá o que deu errado. Quem puxa o rabo do gato arrisca-se a tomar uma mordida. E aprende que, se não puder dar uma cacetada na cabeça do gato antes de puxar-lhe o rabo, é melhor continuar servindo leitinho fresco no pires.

Dilma Rousseff derrotou Dilma Rousseff na Câmara, eis a lição da noite. No comando de um governo apoiado por um condomínio fisiológico, a presidente selecionou Eduardo Cunha para fazer pose de mandatária asséptica. Fez isso num instante em que a gataiada reclamava do racionamento de leite. Escassearam até as  verbas das emendas.

Ao perceber que a candidata à reeleição, de olho no tempo de propaganda no rádio e na televisão, promovia uma distribuição seletiva de ministérios, os gatos miaram com estridência. Ao notar que o PT bebe mais leite, os aliados resolveram esclarecer que sempre é possível desembarcar. Foi como se os governistas informassem a Dilma e ao PT que eles também sabem fazer pose. Se necessário, saltam do governo petista fazendo pose de navio que abandona os ratos.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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