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Na TV, Campos abandona a fórmula do videoclipe e trava conversa com Marina

Josias de Souza

28/03/2014 04h08

O PSB levou ao ar na noite passada uma propaganda eficiente. Eduardo Campos dividiu os dez minutos de que dispunha com Marina Silva, uma vice com potencial para alavancar o titular. Na forma, a peça trocou o modelo batido do videoclipe político por algo tão trivial como um dedo de prosa. No conteúdo, vendeu Dilma como um pesadelo do qual o país pode acordar se eleger uma dupla que sonha. Ele sonha com um Brasil assim. Ela sonha com um país assado.

Nas últimas semanas, o presidenciável do PSB vinha se aproximando rapidamente da fronteira que separa o governista que já foi do oposicionista que se esforça para ser. Aproveitou a propaganda para demonstrar que não cavalgou até as margens do Rubicão para beber água. Ecoado por Marina, Campos pronunciou um lote de frases que, justapostas, ficam muito parecidas com uma declaração de guerra.

Eduardo Campos levantou a bola: "De 2011 pra cá, todos nós sabemos, que começamos a ver as coisas não darem certo como se imaginava que poderiam dar." Marina Silva chutou: "Estamos numa trajetória de retrocessos. Retrocessos na política econômica, retrocessos em relação à agenda socioambiental."

A certa altura, Campos tocou na ferida da autosuficiência de Dilma. Empurrou o dedo. E rodou: "Nós chamamos a atenção para isso desde o primeiro momento, mas o governo não quis ouvir. Essa coisa de governo que não ouve é muito complicada, porque governante que não ouve dá as costas para o povo."

Conforme já se havia comentado aqui, Eduardo e Marina desenvolveram um timbre para a campanha. Egressos do bloco governista —ambos foram ministros no primeiro reinado do petismo— eles são ácidos com Dilma, dóceis com Lula e respeitosos com FHC. Com essa combinação, planejam quebrar a polarização PT-PSDB, que marca as sucessões presidenciais no Brasil desde 1994.

A alturas tantas, Campos praticamente entronizou Marina na posição de vice: "O povo brasileiro já sabe o que quer. Quer mudar. Ainda não sabe é que nós estamos juntos para ajudar essa mudança." Mais adiante, ela como que aceitou: "Não vai ser o palanque, como estão achando, falando de cima para baixo. Vai ser o tablado, olhando de baixo para cima, para ver o que está acima de nós. O fato de estar juntos por um programa, essa é a grande novidade."

Tomado pelas palavras, Campos vai à disputa de 2014 com a pretensão de ser o verdadeiro herdeiro de Lula. Dilma, disse ele, "teve a oportunidade de chegar à Presidência da República, de receber um legado do presidente Lula, com quem nós trabalhamos, e ela poderia ter feito pelo Brasil aquilo que ela se comprometeu a fazer, que era seguir melhorando o Brasil. Não desmanchar o que já estava feito, e fazer o que restava fazer."

Beleza. A propaganda está pronta. É 5% do caminho. Agora só falta injetar na mistura meio quilo de ideias e arranjar algumas toneladas de votos.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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