Lula ‘tinha contato direto’ com ex-diretor preso
Josias de Souza
29/03/2014 19h33
Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras preso pela Polícia Federal por suspeita de lavagem de dinheiro, "tinha contato direto" com Lula, relata o deputado federal baiano Mário Negromonte, do PP. Ex-ministro das Cidades na gestão Dilma Rousseff , o parlamentar conta que, no mundo partidário, as relações de Costa não se restringiam ao PP, legenda que o apadrinhou na diretoria de Abastecimento da estatal petroleira. O preso se dava também com o PMDB e o PT, disse Negromonte, em entrevista ao repórter Adriano Ceolin. A conversa foi veiculada por Veja. Vai reproduzida abaixo:
— Como era a relação de Paulo Roberto com o PP? Quem indicou o Paulo Roberto, na época, foi [José] Janene [ex-líder do PP, mensaleiro, morto em 2010]. Mas o Paulo Roberto tinha um relacionamento muito bom no Congresso com todos os partidos, PMDB, PT, PP…
— De onde veio essa relação? Ele comandava uma diretoria muito importante. Havia muitos interesses. Todo mundo tinha um problema.
— Problema? Por exemplo: havia um deputado que tinha posto de gasolina. Outro tinha uma usina de álcool. Então, a gente tinha contato direto com a Petrobras para falar.
— Mas agora ele está preso… Isso foi uma surpresa muito desagradável para a gente. Ninguém esperava um negócio desse.
— Quem era o principal interlocutor de Paulo Roberto? Quem tinha contato direto com ele era o Lula. É isso que a gente sabe.
— Onde eram os encontros com o ex-diretor? Aqui em Brasília. Eu só estive na Petrobras uma vez. Houve encontros na casa dos deputados José Janene (PP-PR), João Pizzolatti (PP-PR) e Luiz Fernando (PP-MG). Acho que Paulo Roberto pode ter ido à minha casa. Não sou muito de fazer festa.
— O que se discutia nessas reuniões? Era um bate-papo, para mostrar prestígio, que a gente tinha um diretor. Não era nada específico. Ele também frequentava a casa de outros deputados, do PMDB, do PT.
— Qual partido tinha mais ascendência sobre ele? Teve briga com o PMDB, que se dizia padrinho dele. A briga era com o Renan [Calheiros], Eduardo Cunha [líder do PMDB], Henrique Eduardo Alves.
— Disputavam o apadrinhamento? Por causa de poder.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.