PT pressiona e André Vargas deve se licenciar
Josias de Souza
07/04/2014 05h05
O deputado paranaense André Vargas foi aconselhado pelo seu partido, o PT, a tirar licença da Câmara. Engolfado por uma torrente de evidências de que mantém relações monetárias com o doleiro preso Alberto Youssef, Vargas não se mostrou refratário à ideia. O petismo negocia com ele um afastamento do mandato por 90 dias.
O pretexto é o de dar tempo a André Vargas para se dedicar exclusivamente à sua defesa. O objetivo real é o de tirá-lo de cena para tentar evitar que a fervura que o consome se alastre para o partido e ofereça munição nova a adversários que já fustigam o governo com a CPI da Petrobras.
Para complicar, a superexposição de André Vargas é potencializada pela visibilidade do seu cargo e pela grandiosidade de suas ambições. Ele ocupa a vice-presidência da Câmara. E vinha se equipando para pleitear a presidência da Casa em 2015. No intervalo de uma semana, tornou-se uma cassação esperando para acontecer.
Nesta semana, os oposicionistas PSDB, DEM e PPS vão pedir formalmente o afastamento de André Vargas da Mesa diretora da Câmara. O tucanato planeja, de resto, representar contra ele na Comissão de Ética.
Confirmado, o pedido de licença represetará também uma tentativa de fuga. Sustenta-se no PT que, ausente, André Vargas não terá de responder a eventuais questionamentos.
Saindo por 90 dias evitaria a convocação do suplente. Pelo regimento da Casa, o substituto só assume o mandato quando o titular se ausenta por mais de 120 dias (4 meses). De resto, a licença de Vargas venceria em julho, mês em que a Câmara estará em recesso.
Antes da descoberta de suas relações com Alberto Yossef, André Vargas era apenas um folclórico defensor de mensaleiros. Virou um deputado inacreditável quando se descobriu que voara com a família de Londrina para a Paraíba, em férias, num jato pago pelo doleiro. Coisa de R$ 100 mil. Tornou-se um parlamentar inaceitável quando começaram a aportar no noticiário os grampos que a PF instalou nas comunicações etrônicas de Alberto Youssef.
"Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro", anotou Yossef numa mensagem-companheira que endereçou a André Vargas. A dupla prospectava negócios no Ministério da Saúde, então comandado por Alexandre Padilha, atual candidato do PT ao governo paulista.
"Tô no limite. Preciso captar", escreveu o doleiro Yossef a André Vargas. E o vice-presidente da Câmara: "Vou atuar". Youssef insistiu: "Me ajude. Preciso. Hoje vou na indústria. Visita dos técnicos do MS [Ministério da Saúde] às 14h30. Te informo depois como foi".
André Vargas é, hoje, uma espécie de Demóstenes Torres da Câmara. Com duas diferenças: 1) no caso do senador cassado Demóstenes, o escárnio do relacionamento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira era inesperado. 2) diferentemente do PT, que tenta esconder o correligionário tóxico, o DEM expulsou Demóstenes dos seus quadros.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.