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Na TV, Aécio trata governo Dilma como incompetente, corrupto e perto do fim

Josias de Souza

08/04/2014 05h01

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O PSDB leva ao ar a partir da noite desta terça-feira inserções publicitárias que, justapostas, se parecem muito com uma declaração de guerra. As três peças que inauguram a série, disponíveis acima, resumem o governo de Dilma Rousseff como uma espécie de apoteose ao contrário. Um antiespetáculo em que a incompetência e a corrupção se misturam sob atmosfera de fim de ciclo.

"Já deu", diz um locutor no encerramento de uma das peças. "Ou a gente para isso ou isso para o Brasil." O pano de fundo é um copo cheio d'água. O locutor vai enfileirando os defeitos que o tucanato enxerga na gestão Dilma: Inflação demais… Saúde de menos… . Para cada flagelo, uma nova gota despenca sobre o copo, já na bica de transbordar. Corrupção demais… Segurança de menos…

Presidente do PSDB e antogonista de Dilma na corrida presidencial, Aécio Neves protagoniza as outras duas peças. Nelas, o partido e seu candidato realçam duas antiapoteoses específicas: a Petrobras e a inflação. Há um quê de vingança nesse par de inserções.

Em campanhas anteriores, o PT insinuou que, eleitos, os candidatos do PSDB prevatizariam tudo, da Praça dos Três Poderes à Petrobras. Agora, num instante em que a estatal petroleira frequenta as manchetes como um feudo de aliados aportuni$tas, Aécio vai à forra: "O que nós queremos é salvar a Petrobras, é devolvê-la aos brasileiros." E o locutor: "Se trabalhar direito, o Brasil tem jeito."

Na propaganda em que trata de inflação, Aécio usa a conjunta adversa para instilar na plateia o medo de que o Brasil do Plano Real, inaugurado sob Itamar Franco e consolidado sob FHC, vire poeira:

"Nós brasileiros sabemos como foi difícil acabar com a inflação. E essa é uma conquista que nós não temos sequer o direito de perder. Por isso, pra nós do PSDB, é tolerância zero com a inflação." E o locutor, de novo: "Se trabalhar direito, o Brasil tem jeito." A frase será repetida em horário nobre, em rede nacional, até o dia 17, quando o PSDB exibirá seu programa de dez minutos.

Até recentemente, Aécio Neves era criticado inclusive pelos seus aliados por exibir um oposicionismo suave como flor de laranjeira. Nas últimas semanas, o candidato fugiu desse figurino. Tomado pelo tom dos comerciais, Aécio parece convencido de que é melhor entrar logo na briga do que morrer como um transeunte inadvertido. Trata-se de uma estratégia de dois gumes.

Na sucessão de 2006, Geraldo Alckmin armou-se de dois escândalos —o mensalão e o caso dos aloprados— e surrou Lula nos debates, vitimando-o. Foi ao segundo turno, mas colecionou menos votos do que tivera no primeiro. Em 2010, José Serra adulou Lula e escorregou para o segundo round como candidato favorito a fazer de Dilma a primeira mulher a presidir o país. Aécio parece perseguir o meio termo.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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