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PF aniquila o discurso do PT sobre a Petrobras

Josias de Souza

11/04/2014 17h02

O vídeo acima exibe Lula num palanque de Dilma Rousseff na sucessão de 2010. Ao microfone, ele usa a Petrobras para desqualificar os adversários. O petismo quer fazer a mesma coisa em 2014. Mas a Polícia Federal, em parceria com o Ministério Público Federal, talvez não permita.

Menos de 24 horas depois de o Partido dos Trabalhadores divulgar uma nota "em defesa da Petrobras", agentes da Polícia Federal realizaram uma batida de busca e apreensão na sede da estatal, no Rio. Uma coisa não orna com a outra. Ou o PT perdeu o nexo ou a PF enlouqueceu.

O PT escreveu em sua nota: "A ofensiva da oposição, que se voltou contra o sistema de partilha e o pré-sal, tem um único objetivo: fazer prevalecer interesses privados numa empresa que é acima de tudo patrimônio do povo brasileiro." Dois raciocínios, ambos errados.

Primeiro erro: quem faz a ofensiva não é a oposição, mas a PF, uma corporação chefiada pelo ministro petista José Eduardo Cardozo. Segundo equívoco: a incursão visa resgatar o patrimônio do povo brasileiro, momentaneamente sequestrado pelos interesses patrimonialistas do petismo e de seus aliados.

A nota do PT acrescentou que a Petrobras "está sendo atacada pelos mesmos que no passado tentaram mudar seu nome para Petrobrax e tentaram privatizá-la." Afirmou, por fim, que o PT assume a defesa incondicional da Petrobras e adverte que quem agride a Petrobras agride o Brasil." De novo: duas teses, dois erros.

Primeiro erro: o ataque à Petrobras veio de Dilma Rousseff, não da oposição. Foi a presidente da República quem disse que, se não tivesse sido induzida a erro pelo parecer de um ex-diretor indicado pelo PT e endossado pelo PMDB, não teria avalizado o prejuízo de mais de US$ 1 bilhão que a Petrobras arrostou na compra da refinaria de Pasadena. De resto, não foi o PSDB que deu voz de prisão a outro ex-diretor, patrocinado por PT, PMDB e PP.

Segundo equívoco: um partido que aparelha politicamente a maior estatal brasileira e se acha no direito de fazer pose de defensor "incondicional" do conglomerado não agride apenas o Brasil, mas a lógica. É como se uma freira administrasse o bordel e recitasse as sagradas escrituras todo final de noite, ao fechar a caixa registradora.

O PT ainda não se deu conta, mas o feitiço utilizado contra os adversários em eleições passadas virou-se contra o feiticeiro. Quem com Petrobras feriu, com Petrobras será ferido.

 

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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