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Lava Jato ameaça outro deputado: Luiz Argôlo

Josias de Souza

21/04/2014 22h49

Depois de André Vargas (PT-PR), a Operação Lava Jato arrastará para o Conselho de Ética da Câmara outro deputado: o baiano Luiz Argôlo, do recém-criado Partido da Solidariedade, o SDD. Diálogos interceptados pela Polícia Federal indidam que o parlamentar manteve com o doleiro preso Alberto Yossef um relacionamento monetário.

Líderes dos partidos que representaram contra André Vargas no Conselho de Ética, os deputados Mendonça Filho (DEM-PE) e Antonio Imbassahy (PSDB-BA) conversaram sobre o tema nesta segunda-fiera (21). Combinaram de fazer o mesmo com Luiz Angôlo. Antes, aguardarão pelas explicações do colega, exatamente como fizeram com Vargas.

Argôlo era filiado ao PP, partido que patrocinara a indicação do ex-diretor Internacional da Petrobras, Paulo Roberto Costa, preso na mesma operação policial que recolheu ao cárcere o doleito Yossef. Em outubro do ano passado, o deputado migrou para o Solidariedade, partido criado pelo presidente licenciado da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva.

Deve-se ao repórter Rodrigo Rangel a divulgação do teor das mensagens captadas pela Polícia Federal. Revelam indícios de que o deputado mantinha com o doleiro um relacionamento lucrativo. Nessas mensagens, trocadas por celular, Youssef é identificado pelo apelido: Primo. E o o deputado, pelas iniciais: "LA".

Numa das conversas bisbilhotadas com autorização judicial, LA pede dinheiro a Primo. Às 15h04 do dia 16 de setembro de 2013, os dois travaram o seguinte diálogo:

— LA: E aí???

— Primo: Meninos foram para o banco agora. Vamos ver o que conseguimos e vamos para aí.

— LA: O que falo a eles que estão esperando? Tem que ser hoje. Será que sua pessoa resolve aqui?

Repare que o interlocutor do doleito deu a entender que havia um grupo esperando pelo numerário. Em 17 de setembro de 2013, LA voltou à carga:

— LA: Amigo, e aí?

— Primo: Amigo passa o endereço do ap.

— LA: 302 Norte Bloco H, Ap 603.

— Primo: Ok, arruma jantar. Bjo.

A '302 Norte' é uma superquadra de Brasília. O 'Bloco H' é um prédio de moradias funcionais da Câmara. O 'apartamento 603' encontra-se cedido ao deputado Luiz Argôlo. Horas depois de passar o endereço, LA recebe um torpedo de Primo, às 16h51 do mesmo dia 17 de setembro de 2013:

— Primo: Já chegou. Desembarcando. A caminho.

— LA: Ok. Não me deixe situação difícil. Estão todos aguardando. Falo o q???? Pela manhã resolve?'

A despeito das evidências, Luiz Argôlo nega que o LA dos relatórios policiais seja ele. Porém, a Polícia Federal capturou outros diálogos. Num deles, de março passado, LA pede R$ 120 mil ao doleiro, que atende. Yossef providenciou o dinheiro e informou ao interlocutor que transferira para um tal Vanilton Bezerra. Vem a ser o chefe de gabinete de Argôlo.

O enrosco de Argôlo deixa mal o líder do Solidariedade, Fernando Francischini (SDD-PR). Ex-delegado da Polícia Federal, Francischini faz do combate à corrupção o mote central do seu mandato. Tenta convencer o colega a se antecipar, pedindo, ele próprio, a abertura de investigação no Conselho de Ética.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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