PPS vira ‘patinho feio’ da coligação de Campos
Josias de Souza
01/05/2014 03h03
Parceiro de primeira hora da dupla Eduardo Campos—Marina Silva, o PPS está incomodado com o papel que lhe foi reservado na parceria com o PSB e a Rede. Presidido pelo deputado Roberto Freire, o partido avalia que vem recebendo um tratamento de aliado de segunda classe. A atmosfera de mal-estar virou tema de uma reunião da Executiva Nacional da legenda.
O PPS se queixa da falta de apoio aos seus candidatos a governos estaduais. Reclama da ausência de definição quanto aos acordos para a composição das bancadas no Congresso. Considera-se, de resto, excluído da coordenação da campanha e escanteado nos encontros organizados com o propósito de debater o programa de governo do candidato.
No papel, a coordenação do grupo que cuida do programa é tripartite. Pelo PSB, fala o ex-deputado federal pernambucano Maurício Rands. Pela Rede, Neca Setúbal. E pelo PPS, o vereador de Recife Raul Jungmann. Um episódio ocorrido nesta quarta-feira (30) dá ideia do tamanho do enrosco.
Eduardo Campos e Marina Silva estrelaram em São Paulo uma "oficina de trabalho" para discutir política econômica. Compareceram cerca de 80 professores e operadores do mercado. A lista incluiu nomões como André Lara Resende, Eduardo Giannetti, Bernardo Appy, Marcos Lisboa e Sérgio Werlang.
Na fase de preparação, o PPS se mobilizou. Raul Jungmann indicou os PHDs da legenda. Providenciaram-se os bilhetes aéreos. Um dos membros da delegação contou ao blog que a informação sobre o local onde ocorreria o encontro só chegou no final da tarde da véspera. Houve certa estranheza.
Já em São Paulo, a turma do PPS se deu conta de que desempenharia na "oficina" um papel, por assim dizer, decorativo. Veiculada na internet, a programação mencionava como "organizadores" do evento apenas Maurício Rands (PSB) e Noca Setúbal (Rede). Excluído do programa e da mesa, Raul Jungmann abespinhou-se.
De acordo com uma testemunha da cena, Jungmann enviou um e-mail para Rands. Embora já estivesse na capital paulista, anotou no texto que não iria ao encontro. Alegou ter sido informado sobre o local muito em cima da hora. Escreveu que não faria falta, já que não participaria da coordenação. Informou que os técnicos do partido dariam as caras. Desejou sucesso. E voou para Recife.
Ironicamente, Jungmann deslocara-se para São Paulo depois de participar, em Brasília, na terça-feira, da reunião da Executiva Nacional em que o PPS discutira a sua condição de 'patinho feio' da aliança. A certa altura, o deputado paulista Arnaldo Jardim, junto com Roberto Freire um dos maiores entusiastas do apoio a Eduardo Campos, chegou a indagar qual seria, afinal, o papel do PPS na campanha.
Em meio às queixas, o PPS deliberou que não vai mais aguardar pela posição a ser adotada por seus parceiros em São Paulo. A Executiva decidiu que, com ou sem o PSB e a Rede, confirmará sua aliança com a recandidatura do governador tucano Geraldo Alckmin. Há duas semanas, em conversa com Campos, Freire o aconselhara a associar-se a Alckmin. Porém, Marina e sua Rede discordam.
O PPS se ressente também da falta de apoio dos aliados aos seus candidatos a governos estaduais. São três: no Distrito Federal, a deputada distrital Eliana Pedrosa. No Amazonas, o vice-prefeito de Manaus Hissa Abrahão. E, no Maranhão, a deputada estadual Eliziane Gama. Essa última, já rendida às evidências, deve desistir da candidatura em favor do ex-deputado Flávio Dino, do PCdoB, com quem Eduardo Campos flerta.
Disseminam-se no PPS também as queixas em relação à flacidez dos acordos para a composição dos blocos de candidaturas ao Congresso. As queixas são mais intensas em Santa Catarina, no Paraná e em Pernambuco, Estado de Campos. Líder do PPS na Câmara, o deputado Rubens Bueno protagonizou um episódio emblemático.
Na semana passada, o presidenciável do PSB esteve na cidade paranaense de Cascavel, base eleitoral de Bueno. Que não foi convidado a acompanhá-lo. Pior: não foi sequer avisado de que o candidato passaria por seu reduto. Uma evidência de que, além de fazer figuração nos encontros programáticos, o PPS tornou-se um zero à esquerda até na elaboração da agenda da campanha.
A despeito da insatisfação, não se formou no PPS, por ora, um ambiente de rompimento. Na reunião da Executiva, Roberto Freire manuseou panos quentes. Ainda prevalece no partido o entendimento de que o apoio a Campos é vital para produzir um segundo turno na sucessão de 2014. Mas parece evidente que, mantido o cenário atual, os partidários de Campos podem ter problemas para converter na convenção de junho o "indicativo de apoio" numa aliança formal.
A hipótese de meia-volta seria desastrosa para Eduardo Campos. Perdendo o PPS, restariam ao candidato o seu PSB; uma Rede com grife, mas sem propaganda na tevê; e um insignificante PPL. Para complicar, o presidenciável tucano Aécio Neves está na espreita.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.