Topo

Dilma teme mais os aliados que os rivais na CPI

Josias de Souza

06/05/2014 06h10

Diante da inevitabilidade da CPI da Petrobras, o Planalto tentou excluir os deputados do lance, restringindo a encrenca a uma comissão composta só de senadores. Com esse movimento, Dilma Rousseff ficou no meio de um tiroteio entre a Câmara e o Senado. O governo recebeu um aviso: excluídos, os deputados iriam buscar a CPI mista na marra. Na noite passada, Dilma já considerava a hipótese de organizar sua tropa para a CPI ampliada, com senadores e deputados.

A presidente passou a temer mais os supostos aliados do que os rivais da oposição. Soube que o PMDB briga consigo mesmo em torno da CPI. A banda do PMDB da Câmara, liderada pelo presidente Henrique Eduardo Alves e pelo líder Eduardo Cunha, concluiu que uma CPI só do Senado concentraria poderes demais nas mãos de Renan Calheiros.

Renan não terá um assento na CPI da Petrobras. Mas alguns dos principais membros da comissão terão lugar cativo na antessala da presidência do Senado. Além de se autoproteger, Renan ofereceria escudo a Dilma, cacifando-se. "Sabe Deus o que pedirá em troca", comentava nesta segunda (6) um peemedebista da Câmara. "Cansamos de fazer papel de bobos. A Câmara morde, o Senado assopra. Já deu."

No papel, respeitada a regra da proporcionalidade das bancadas, o governo vai à CPI da Petrobras com o controle da presidência, da relatoria e de 76,9% dos votos. Numa comissão do Senado, leva dez dos 13 assentos. Confirmando-se a mista, coleciona 20 das 26 cadeiras. O diabo é que Dilma já se deu conta de que o pior tipo de solidão é a companhia dos seus aliados.

Até a noite passada, apenas dois líderes haviam indicado representantes para a CPI mista, ambos da Câmara. Mendonça Filho (PE), do DEM, indicou Rodrigo Maia (RJ) como titular e Onyx Lorenzoni (RS) como suplente. Rubens Bueno, do bloco PPS-PV, indicou a si próprio como titular e o colega verde Antonio Roberto (MG) para a suplência. Nem sinal, por ora, dos nomes do bloco dos governistas ma non troppo: PMDB, PR, PDT, um pedaço do PTB…

Um dia depois de recorrer ao plenário do STF contra a liminar da minstra Rosa Weber, que mandou instalar a CPI, Renan reunirá os líderes da Câmara e do Senado às 15h30 desta terça-feira. A exemplo de Dilma, ele emitiu sinais de que deve se render à CPI mista. Nessa hipótese, restaria ao governo tentar domar os aliados para obter indicações companheiras.

Nos últimos tempos, CPI virou sinônimo de desmoralização. Mas tanto barulho em meio a uma campanha eleitoral não é coisa agradável. De resto, o petismo carrega a bola de ferro da CPI dos Correios. Começou na filmagem de um servidor de terceiro escalão recolhendo propinas em nome do PTB. E terminou no mensalão. A presidência era do PT. A relatoria, do PMDB. A maioria era governista. Mas não houve força capaz de deter os fatos.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Dilma teme mais os aliados que os rivais na CPI - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


Josias de Souza