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Crediário virou religião, mas o deus Aprazo faliu

Josias de Souza

30/05/2014 20h22

O IBGE informou que o PIB-anão registrou no primeiro trimestre de 2014 um crescimento que só pode ser enxergado com lupa: 0,2%. Houve uma freada geral. Sob densa bruma de pessimismo, os empresários seguram os investimentos. E os consumidores se retraem.

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que as famílias pararam de consumir porque os juros subiram e a inflação não caiu. Em consequência, as mercadorias e o crédito ficaram mais caros. "Os juros são um remédio necessário para conter a inflação", disse Mantega. "Infelizmente, os efeitos são esses. À medida que a inflação cair, haverá uma retomada do consumo."

Mantega não disse, mas a inflação foi ao teto da meta por causa das derrapagens do governo. Vem daí o mau humor que os eleitores despejam nas pesquisas de 2014.

O crediário tornara-se uma espécie de religião. Sempre que ouvia 'sem entrada', o brasileiro entrava. A nova classe média, cantada em prosa e verso, entregara sua alma ao deus Aprazo.

Mantega diz que houve "um crescimento da massa salarial de 4% nos últimos doze meses". O diabo é que, sob um regime de pleno emprego de dois salários mínimos, a renda só deu para levar as ovelhas até a porta do inferno, onde se lê: 'SPC'.

Muitos crediaristas se arrependem: "Misericórdia, senhor, atrasei as prestações de março e abril." Mas o deus Aprazo é inclemente: "Acerte maio, pague os atrasados com juros de mora e lembre-se: o senhor é seu pastor. Mas se não for bom pagador, o crédito lhe faltará."

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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