Preso, Paulo Octávio fala de corrupção na tevê
Josias de Souza
03/06/2014 21h52
Preso desde a noite de segunda-feira (2), Paulo Octávio, ex-vice-governador do Distrito Federal, invade os lares dos moradores de Brasília pela televisão. Dirigente do PP, ele é protagonista da propaganda institucional do partido. Na peça, o personagem oferece uma saída mágica para reduzir a corrupção no país.
Esse Paulo Octávio da propaganda recorda à plateia que, na época em que foi senador, defendeu a criação do imposto único. Entre outras vantagens, ele diz que "o imposto único reduziria a corrupção, a sonegação, as fraudes, aumentaria a arrecadação, a criação de novas empresas, a geração de milhões de empregos e o otimismo do Brasil."
O Paulo Octávio da cadeia, empresário do ramo da construção civil, desmoraliza o lero-lero do político. Foi preso sob a acusação de subornar servidores públicos em troca de licenças ilegais para a construção de prédios. Segundo o Ministério Público, pagou propinas para aprovar ilegalmente pelo menos quatro edifícios. Entre eles um shopping-center.
Advogado de Paulo Octávio, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirma que seu cliente foi recolhido ao xadrez sem que o juiz, Wagno de Souza, fundamentasse a decisão. Em habeas corpus protocolado no plantão do Tribunal de Justiça do DF na madrugada desta terça (3), a banca de Kakay pediu a revogação do mandado de prisão.
Em vez de deferir o pedido, o desembargador que recebeu a petição da banca da defesa achou melhor pedir informações ao magistrado Wagno de Souza. Segundo Kakay, só depois de decorridas mais de 12 horas da detenção de Paulo Octávio vieram à luz os motivos.
Nessa versão, Paulo Octávio foi ao xilindró por conta do conteúdo de interceptações telefônicas feitas "meses atrás". Num dos diálogos, Paulo Octávio soa no grampo orientando um servidor público a não entregar a uma promotora de Justiça documentos referentes à liberação de prédios construídos por seu grupo empresarial.
"As gravações foram feitas meses atrás", disse Kakay. "Um outro pedido de prisão já havia sido inclusive indeferido. Por que prender agora o suposto corruptor e não o corrupto? Não faz o menor sentido." Na manhã desta quarta-feira, a defesa de Paulo Octávio vai protocolar um "aditivo" ao primeiro pedido de habeas corpus.
Seja qual for o resultado, o Paulo Octávio da propaganda televisiva, exibido em horário nobre, tornou-se um personagem sem nexo. Ex-vice de José Roberto Arruda, aquele governador que estrelou o mensalão do DEM e renunciou ao mandato após dois meses de cana, Paulo Octávio aprende da pior maneira que políticos como ele deveriam trazer na coleira as opiniões sobre corrupção.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.