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Alckmin virou uma espécie de ‘candidato-teflon’

Josias de Souza

07/06/2014 04h52

Numa conversa que teve com Fernando Henrique Cardoso, na viagem de volta do funeral de Nelson Mandela, há seis meses, Lula explicou as razões que o levaram a escolher o ex-ministro Alexandre Padilha como candidato do PT ao governo de São Paulo: "Ele tem cara de tucano", disse, entre risos.

Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado revela que a premissa embutida no chiste de Lula —a de que paulista gosta de tucano— continua em pé. Candidato à reeleição, Geraldo Alckmin tornou-se um administrador de crises. Não leva a cara para fora do palácio sem ser assediado por dois vocábulos: 'cartel' e 'racionamento'.

A despeito disso, informa o Datafolha, Alckmin conserva 44% das intenções de voto. Juntos, todos os seus adversários somam 31%. Significa dizer que, se os votos descessem à urna hoje, o governador do PSDB seria reeleito no primeiro turno. Seu rival mais bem posto, Paulo Skaf (PMDB), amealhou 21%. Padilha, o 'tucano' petista, colecionou, por ora, ridículos 3%.

No escândalo do cartel do metrô e dos trens, Alckmin mimetiza a tática usada por Lula quando precisou posar de cego: Eu não sabia. Na crise no abastecimento de água, o governador tucano aponta para o alto: é culpa de São Pedro. E um pedaço expressivo do eleitorado dá-lhe crédito.

Em 2006, ano em que Lula prevaleceu sobre Alckmin, reelegendo-se no segundo turno, descobriu-se que nada de ruim grudava na sua imaculada figura. Mal comparando, Alckmin revela-se agora detentor do mesmo poder de refração. Tornou-se, por assim dizer, um candidato-teflon. Nada gruda. Para se manter assim, terá de acender muitas velas para São Pedro. Ou aprender a dança da chuva.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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