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No fim, todas as coligações têm um pé na cadeia

Josias de Souza

21/06/2014 17h29

O monstro do Mesmo, polvo de infinitos tentáculos que domina a política brasileira, aguardava a sua hora de entrar em cena. Quando soube que o Datafolha detectara um sentimento de mudança, o monstro tremeu. Mas manteve a calma. Colocou todas as suas ramificações no modo stand by, ligou as ventosas e ficou de prontidão. Sabia que, cedo ou tarde, seria convocado.

O polvo esboçou um sorriso quando lhe disseram que Dilma Rousseff frequentaria a propaganda eleitoral como a mudança de si mesma. O monstro perguntou de si para si: como reagirá a bancada do PT na Papuda? Veio-lhe a imagem do José Dirceu balbuciando: 'Hã, hã…'

O polvo assistiu à convenção em que o PSDB confirmou Aécio Neves como seu presidenciável. Ouviu o candidato tucano vaticinar que um tsunami vai varrer do Planalto tudo o que é indigno. O monstro olhou para o lado, viu o Paulinho da Força Sindical e não se conteve: 'Ah, vá! Conta outra.'

O polvo percebeu o esforço do Eduardo Campos para se ajustar às exigências de Marina Silva. Mas toda vez que o presidenciável do PSB falava em "nova política" o monstro lançava um olhar sobre Pernambuco. Enxergava aquela megaligação de 21 partidos, com interesses a perder de vista. E exultava: 'Fala séééério!'

De repente, como o polvo previra, sobreveio a convocação. E o monstro do Mesmo entrou em campo. O PSB, que se jactava de ter rompido os vínculos com o PT e todas as suas perversões, associou-se ao velho aliado no Rio de Janeiro.

O PSDB, que festejara em segredo a passagem do seu mensalão mineiro das alturas do STF para a primeira instância do Judiciário, empurrou o PTB do presidiário Roberto Jefferson e do multiprocessado Gim Argello para dentro da coligação nacional de Aécio.

O monstro do Mesmo não tinha dúvidas. Ele costuma dizer que, no Brasil, o novo é apenas o igual disfarçado. O polvo não desiste nunca. Em ritmo de Copa, ele grita: 'Eu sou brasileeeeeeeiro, com muito orguuuuuulho, com muito amoooooooor…' Um de seus infinitos tentáculos digita freneticamente nas redes sociais: #estamostodosjuntosnoxadrez.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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