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Ciro insinua que há ‘suborno’ na eleição do CE

Josias de Souza

27/06/2014 04h24

Político de ignição instânea, Ciro Gomes acendeu uma dinamite. Chamou de "lambanceiro" o senador Eunício Oliveira, candidato do PMDB à sucessão do seu irmão, o governador cearense Cid Gomes. Riscou o fósforo ao declarar que Eunício quer "comprar o poder no Ceará". Levou a chama ao pavio no instante em que construiu um raciocínio que carrega no miolo o vocábulo "suborno".

Eis o que disse Ciro: "Infelizmente, variáveis de suborno também estão muito pesadas nessa eleição. Eu mesmo que sou macaco velho, nunca vi um assédio tão pesado, sobre companheiros de partidos emergentes, que estão indo me relatar, em casa, que o negócio, em uma certa cobertura na avenida Beira Mar, joga pesado."

Sobre Eunício, Ciro construiu um par de frases que começam na atuação do senador em Brasília, passam pelo patrimônio amealhado por ele como empresário do ramo de segurança e terminam noutra insinuação passível de enquadramento no Código Penal.

No dizer de Ciro, Eunício "nunca deu um centavo de emenda para a segurança, nunca destinou um centavo de recursos orçamentário para a saúde do Ceará, agora vem falar… Só porque quer ser governador, só porque é riquinho vem querer comprar o poder no Ceará".

Amarrando-se os dois fios puxados por Ciro —"Infelizmente, variáveis de suborno também estão muito pesadas nessa eleição" e "só porque é riquinho vem querer comprar o poder no Ceará"— chega-se a um novelo muito parecido com uma denúncia de compra de tempo de propaganda eletrônica de legendas nanicas por um candidato ao governo do Ceará. Uma conduta é criminosa.

Ciro dá a entender que tem conhecimento de tudo o que se passou nos dois lados do balcão. Conhece o suposto comprador, um "lambanceiro" que, até ontem, apoiava o governo do irmão Cid. E recebeu "em casa" os alvos do assédio, "companheiros de partidos emergentes". Está ciente até do endereço da cena do crime: uma "cobertura da Avenida Beira Mar", em Fortaleza.

Reproduzidas nesta quinta-feira (26) pelo jornal Tribuna do Ceará, as declarações tóxicas escorreram dos lábios radioativos de Ciro Gomes na noite da véspera. Deu-se num hotel da capital cearense, o Oásis Atlântico, onde se realizou um encontro do partido do declarante, o Pros, com representantes de legendas aliadas. Procurado, o senador Eunício preferiu não fazer comentários.

De duas, uma: ou Ciro diz a verdade ou propaga uma mentira. Na primeira hipótese, o acusador deveria se dirigir ao Ministério Público Eleitoral. Na segunda hipótese, deveria ser conduzido às barras dos tribunais. De todas as alternativas, a única que seria inaceitável é deixar o dito pelo não dito.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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