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Campos e Marina farão campanha separadamente após a convenção

Josias de Souza

28/06/2014 05h21

A convenção nacional do PSB marcará o início de um novo ciclo na campanha presidencial do partido. Até aqui, o candidato Eduardo Campos e sua vice Marina Silva fizeram campanha, por assim dizer, de mãos dadas. A partir deste sábado (28), a dupla correrá o país separadamente. A coincidência de agendas passará a ser exceção, não regra. Haverá também ajustes no discurdo do cabeça de chapa.

A decisão de apartar os compromissos foi tomada numa conversa reservada que Campos teve com Marina há dois dias. Concluíram que, separados, além de cobrir um território maior, evitam atritos que marcaram a fase de pré-campanha. Campos fica liberado para assumir parcerias estaduais que a Rede desaprovou. E Marina se desobriga do convívio com personagens que destoam do seu discurso renovador.

Busca-se contornar constrangimentos como o que ocorreu em recente viagem ao interior do Paraná. Campos e Marina cumpriram vários compromissos juntos. Mas a vice se esquivou de participar de um encontro no qual o titular selou o apoio do PSB à reeleição do governador paranaense Beto Richa, do PSDB. O noticiário realçou só a divergência. Algo que seria potencializado com a intensificação da campanha.

Quanto ao discurso, Campos ajustará o conceito de "nova política" à realidade do seu PSB, que não coincide com a filosofia da Rede de Marina. Com jeito, sem desmerecer a política baseada nos bons sentimentos, Campos entoará uma pregação mais pragmática. Deseja apresentar-se como um candidato interessado em mudar as coisas, não em salvar a própria alma das impurezas do meio.

De acordo com relatos de seus operadores, Campos vai escorar sua estratégia em duas linhas de ação. Numa, ele se apresentará como único candidato capaz de bater Dilma Rousseff num eventual segundo turno. Noutra, enfatizará que, eleito, terá condições de unificar o país, aproveitando em seu governo inclusive o que há de melhor nos quadros do PT e do PSDB, duas forças irreconciliáveis.

Ajustam-se a esse figurino coligações como as que o PSB firmou em São Paulo, com o PSDB de Geraldo Alckmin; e no Rio de Janeiro, com o PT de Lindbergh Farias. De resto, o próprio Campos vira um presidenciável menos desconexo. No seu esforço para se ajustar a Marina, vinha se tornando uma caricatura dela. Na nova versão, pretende enaltecer a Rede sem anular a autonomia do PSB.

Nos subterrâneos do PSB ouvem-se muitas críticas a Marina. Diz-se que, sob sua influência, Campos como que se desfigurou. Nessa versão, o candidato teria abdicado de firmar acordos políticos estratégicos, permitindo que o tucano Aécio Neves jogasse sozinho. O exemplo mais mencionado é o do Rio Grande do Sul.

Ali, Marina torceu o nariz para a senadora Ana Amélia, do PP. Favorita em todas as pesquisas na corrida pelo governo gaúcho, ela flertava com Eduardo Campos. Mas, rejeitada sob a alegação de que seria excessivamente simpática à causa do agronegócio, a senadora coligou-se com o PSDB de Aécio.

Porém, mesmo os críticos mais ácidos de Marina enxergam nela uma parceira vital para o êxito do projeto presidencial de Campos. Nas palavras de um dos operadores da campanha do PSB, "não fosse pelo gesto de Marina, o Eduardo talvez nem fosse candidato." Receava-se que ele cedesse a eventuais apelos de Lula para que adiasse suas pretensões para 2018.

Esse mesmo correligionário de Campos recorda que, há seis meses, ele ainda hesitava em mergulhar na campanha. Só atravessou definitivamente o Rubicão depois que Marina, vendo naufragar o pedido de registro da sua Rede no TSE, ofereceu-se "generosamente" para colocar o seu prestígio a serviço do candidato do PSB. Fez isso num instante em o PPS lhe oferecia legenda para que ela fosse candidata, não vice.

Há uma certa frustração dos partidários de Campos com a fraco desempenho do candidato nas pesquisas. Imaginava-se que a associação com Marina produzisse efeitos imediatos. Mas generalizou-se no PSB a impressão de que a chapa tomará o elevador à medida que a campanha avançar.

Essa percepção é escorada em pesquisas telefônicas feitas semanalmente pelo publicitário argentino Diego Brandy, espécie de guru do candidato. Nessas sondagens, Campos ultrapassa Aécio quando os pesquisados são informados de que Marina é a vice da chapa.

Vem daí o esforço que o PSB diz ter feito para chegar a este sábado, dia da convenção, sem melindrar Marina a ponto de fazê-la desistir da condição de vice. Numa avaliação do tipo custo-benefício, considera-se que houve mais ganhos do que perdas.

Agora, avalia-se que a parceria está madura o bastante para suportar um retorno gradativo de Campos ao velho pragmatismo que o fez governar Pernambuco com uma base de apoio que chegou a dispor de 16 legendas. A ver.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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